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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

As férias que não terei, uma carta com tom pessoal e Feliz 2010!

Olá, novamente chega o tempo em que as coisas se afunilam e formam um gargalo na vida das pessoas, mais conhecido e para alguns, temido, final de ano. Principalmente para certos estudantes que tem uma pilha de trabalho e pesquisa para fazer, como é o caso deste que vos fala. Enfim, seguindo a lógica é preciso alguns abandonos, mesmo que temporários. E quase sempre, infelizmente o escolhido é aquilo que é "voluntário" e "não-vinculante", sim críticas  implícitas diretas ao rumo que a COP-15 está tomando.
Gostaria de ter acompanhado o final da COP-15, refletir sobre tudo o que foi noticiado e as declarações finais, mas não vou dar conta, ou se fizesse não seria reflexão e sim reprodução. Mas espero que cheguemos a resultados melhores do que as perspectivas até agora nos mostram. Que os líderes por seus respectivos povos "escolhidos" (alguns, pelo menos) sejam capazes de deixar de lado um pouco a ganância, o egoísmo, o orgulho besta, a arrogância e a hipocrisia e possam pensar no que é melhor para todos.
Mostrar solidariedade, humildade, simpatia e empatia, ajudar ao próximo não é sinal de fraqueza, nem de submissão e muito menos ingenuidade. Aqui, pelo menos para mim, vale o seguinte: "É esperto, sortudo e dedicado quem consegue crescer sozinho. É muito mais inteligente, capaz e necessário quem cresce em conjunto."

Isto é, quem consegue se desenvolver e também primar pelo bem comum, sem prejudicar os outros e, pelo contrário, ajudando os outros a se desenvolverem o que é muito mais difícil. Principalmente com a lógica do individualismo cada vez reinante. Assim fica complicado pensar ou mesmo executar planos e ações para a Sustentabilidade, pois requerem a adesão, aceitação e internalização de todos, ou pelo menos a maioria. Então quanto mais pessoas envolvidas e pensando no conjunto, melhor!
Crescimento e Desenvolvimento não são necessariamente a mesma coisa, mas não vou me aprofundar nesse debate, apenas dizer que estão interligados e que crescimento sem desenvolvimento não é um crescimento verdadeiramente sustentado a longo prazo e é mais uma exceção do que regra, sendo aplicável a poucas pessoas, casos e situações.

Não sei quando vou conseguir retornar ao blog. Espero que seja em breve. Mas não tenho previsões de volta, torço para fevereiro de 2010.
Sei que há muito o que dizer, muito mais o que fazer e felizmente um número cada vez maior de pessoas fazendo e discutindo, preocupadas e interessadas. Isso me anima, me faz querer fazer mais também. Mas tudo a seu tempo, eu também ainda estou na minha fase de "crescimento" e "desenvolvimento", acho até que não vou sair nunca dessa fase.
Espero ter chance de divulgar minhas ideias e pensamentos por muito mais tempo. Há dois anos atrás comecei esse caminho, espero muito mais pela frente, mesmo com as interrupções e textos inconstantes e até inconsistentes, mas é o que eu posso fazer sem prejudicar o resto. Isso faz parte da vida.
Ano que vem promete ser um ano agitado para o país e para minha vida acadêmica também. Espero poder conciliar as coisas.
Queria agradecer de coração aos que leem e seguem aos meus pensamentos e impressões, nem sempre claros ou mesmo completos e até incoerentes em alguns pontos. Como disse é um processo em execução e desenvolvimento. A ideia inicial era expandir, mas ainda não tive essa luz para o como fazer isso. No final das contas acabou se tornando um xodó, uma coisa "pessoal", mesmo sendo pública a quem quiser.
Me responsabilizo pelas ideias e textos até agora expostos, mesmo que muito não sejam minhas ideias ou mesmo originais. Tentei dar referências, principalmente nos textos iniciais que tinham um tom mais acadêmico. Ao longo do tempo foi como já disse  ficando mais pessoal, não que antes não fosse...

Aderi ao twitter, acho que esse que é um "reprodutório" de pensamentos, notícias e ideias interessante que não requer, nem possibilita tantas reflexões dado o limite de 140 caracteres, mas algumas entidades e pessoa ainda não perceberam essa ferramenta como uma grande listagem e "linkagem" de comunicação rápida. Para aprofundar pensamentos, notícias e outras situações, uma página e sítio na internet, um blog e o bom e-mail ainda são indispensáveis.
E claro que é preciso tomar cuidado com o que se clica nesse microblog já que utilizam-se muitas vezes ferramentas de "encolhimento" de links, Nem sempre o que se diz que é o link, é onde vai. Ou seja, a possibilidade de golpes e vírus também aumentam com essa ferramenta. Por isso cuidado!

De qualquer forma http://www.twitter.com/fmatsunaga


Desejo a todos boas festas, sucesso, felicidades e um p... 2010~!
Abraços

Fernando Matsunaga



segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Apresentação Cultural da COP15, muito boa

É só clicar no título também, que você será direcionado ao clipe de abertura feito para a Conferência do Clima na dinamarca que ocorre até o dia 18/12/2009. É um curta de apresentação, mas muito boa mesmo!



http://www.youtube.com/watch?v=NVGGgncVq-4

domingo, 6 de dezembro de 2009

Ansiedades para a COP-15 - Pós-Quioto em Pauta?

Estava tentando me segurar, mas não aguentei. Faltando poucos dias para o início da 15a. Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP-15) que será realizada em Copenhague. Uma das mais conhecidas conferências internacionais na discussão sobre a mudança climática e uma expectativa em torno do que será o futuro das emissões de poluentes.
Pelo visto eles não estão seriamente ameaçados, aliás nem de longe. Mas as mobilizações já estão se intensificando, desde indivíduos interessados a governantes e políticos que estarão na Conferência negociando. Gostaria de dizer que o mundo todo, ou a grande parcela da população mundial, está ansiosa para isso... Infelizmente essa não é a realidade, novamente nem de longe. Talvez por isso as emissões não estejam seriamente ameaçadas. Pelo menos na visão de certos políticos brasileiros que acham que essa tal de questão "climática" e a "proteção" ambiental são "balelas" "populistas" e "mentirosas".
São diversos argumentos que podem ser usados tanto contra como a favor, mas que desviaria a finalidade desse texto. Mas que não deve ser ignorado. Sim, o clima não é uma unanimidade, nem em sua conceituação, nem se há real ameaça ao planeta e ao futuro. Isso ainda nem é o ponto tão preocupante. Há ainda pessoas que defendem práticas rudimentares, atrasadas, predatórias e ainda dizem que é para o nosso bem e para o nosso "desenvolvimento".
É só fazer uma pesquisa rápida nos principais jornais do mundo nos últimos dias e ver o panorama da diversidade de opiniões e dos debates que a COP-15 está gerando. Um trabalho digno de uma tese, diga-se de passagem.
O que mais me preocupa é que há uma ameaça de que não se avancem as negociações de um acordo para substituir o Protocolo de Quioto que tem sua validade para 2012, ainda mais se nos espelharmos nas negociações ocorridas em Bali no ano passado. Embora esse ano já tenha apresentado alguns posicionamentos mais promissores como o  da própria China,  que desde o início do ano vem falando sobre investir em geração de Energia Limpa e aderir mais aos Mecanismos de Energia Limpa - MDLs e uma redução significativa nas suas emissões; e até mesmo a confirmação da participação do presidente Barack Obama dos EUA , que vinha sendo ameaçada foi confirmada para a COP-15, o que já é um avanço mínimo. Além de um posicionamento mais firme do Brasil no último mês, até com sugestão de uma redução voluntária (imagino se é o efeito Marina ou para remediar declarações e decisões anteriores sobre o novo Código Florestal e a "grilagem", a "impossibilidade" do fim do desmatamento e outros tropeços ?!...)
Mesmo assim não parece que as negociações serão concluídas em Copenhague neste ano, como era o desejo de muitos, eu incluso. Ainda não há nada certo e muito pode acontecer nas próximas semanas. Quem sabe uma surpresa boa para encerrar o ano?

Começa amanhã e vai até o dia 18 de dezembro de 2009.
Para quem quer acompanhar as discussões haverá transmissão dos encontros oficiais e das declarações a Imprensa: http://www1.cop15.meta-fusion.com/kongresse/cop15/templ/intro.php?id_kongressmain=1&theme=cop15&=

A BBC fez uma reportagem bem interessante sobre o posicionamento e situação de alguns países latino-americanos:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/2009/12/091203_mapaemissoes.shtml


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

II Simpósio de Pós-Graduação do Programa "San Tiago Dantas" (UNESP, UNICAMP e PUC/SP)

Será realizado nos dias 16, 17 e 18 de novembro no Anexo dos Congressistas do Memorial da América Latina o II Simpósio de Pós-Graduação do Programa "San Tiago Dantas" (UNESP, UNICAMP e PUC/SP).
Uma iniciativa dos discentes do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais, pretende discutir e ampliar o debate e pesquisas dos pós-graduandos da área de RI. Contamos ainda com a participação de pesquisadores e professores de algumas das melhores universidades do país. Ainda teremos o lançamento de livros durante todo o evento.
Para mais informações: http://www.unesp.br/santiagodantassp

domingo, 8 de novembro de 2009

Em um mundo com...

Será que um mundo melhor e mais justo é possível? Quais serão as prioridades? Haverá uma mudança significativa? Será sustentável, ou melhor, haverá preocupações e ações sustentáveis?
Sinceramente não sei. Gostaria de acreditar que sim.
Gostaria que esse não fosse um pedido infantil e inútil.
Estava pensando em fazer esse texto como um dia da semana com, mas resolvi ampliar para um mundo com! Claro que não vai ser uma lista completa, nem tampouco objetiva, mas quem sabe se desejos anunciados não se tornam realidade?! Pelo menos muitos acreditam e eu quero acreditar que é possível melhorar com:

1) Solidariedade: Esse é um item que mais precisamos no momento, nosso próprio senso de humanidade está de certa forma em questão. Precisamos de mais justiça, mais equidade, igualdade, entendimento, convivência e integração real. Isso requer amor e compaixão que podem ser vistas como formas de solidariedade. Mas não devemos confundir isso com piedade ou ingenuidade. A solidariedade envolve conhecer, entender, aceitar, participar, melhorar e tantos outros sentimentos que realmente podem ser confundidos se não houver responsabilidade, respeito, ética e consciência.

2)  Responsabilidade, Respeito, Ética e Consciência: O que implica sermos responsáveis? É só assumir as consequências de nossas ações? Sermos "culpados" por aquilo que fazemos? Ou também envolve pensar e cuidar, tanto as coisas materiais como os outros? Envolvem práticas éticas, respeitosas conscientes? Tudo deve ser levado em conta, mas não podemos ser obtusos e radicais ou mesmo ficar sem ação pelas preocupações. Todos nós temos vontades, desejos e condições diversas é preciso respeito ao próximo para que não haja imposições e dominações. A ética e a conscientização requerem que saberes e conhecimentos sejam considerados nas ações e aplicações práticas, mas de forma responsável e com respeito à vida, à saúde, ao ambiente.

3)  Saberes e Conhecimentos: A busca pela "previsibilidade" é um dos grandes desafios impostos à Ciência. A informação, os saberes e o conhecimento fazem parte dessa busca. O resultado nem sempre é como esperado, afinal o fator humano deve ser levado em conta e é um fator imprevisível, mutável, dinâmico. Não quer dizer que não possa haver saberes e conhecimentos 'verdadeiros', úteis, precisos, nem que a imprevisibilidade e incerteza sejam maléficas. É preciso uma maior integração, interação e auxílio entre os diversos saberes, conhecimentos e práticas. A transdisciplinaridade não significa acúmulo de conhecimento pura e simplesmente. Nem que todos devem saber de tudo a todo o momento, mas que haja condições e diálogos constantes que facilitem pensar no todo.
4) Sustentabilidade: Ainda que em muitos aspectos seja um termo genérico, em que a definição utilizada pode ser questionada pelas diversas práticas e teorias. Há também um consenso sobre o que envolve a Sustentabilidade. O mais utilizado é um excerto do relatório Brundtland de 1987 ou como é intitulado “Nosso Futuro Comum”, que afirma que o Desenvolvimento Sustentável é a capacidade de prover as necessidades atuais sem prejudicar as gerações futuras. Mesmo muito mais amplo que isso é geralmente esse a ideia mais divulgada. Também envolve os pontos acima já discutidos e outras questões. O interessante é a visão e importância humana impregnada nessa perspectiva. Isso tem também um razão e um contexto por trás de qualquer declaração e sua respectiva aceitação. O momento atual permite, em certos aspectos, expandir a discussão e reflexão, até mesmo ações, estudos e projetos refletem essa expansão. Mas não significa, infelizmente, uma maior participação e integração da sociedade, nem que há equidade e justiça.
5) Equidade, Justiça, Participação. Não há solidariedade sem justiça, sem igualdade, nem justiça sem humanidade, afinal esses são termos interconectados e de certa maneira co-dependentes, e também são conceitos que nós definimos ao longo do tempo. Se igualdade é definida como condições, direitos e oportunidades iguais, sem discriminação e preconceitos relativos à etnia, origem, sexo, gosto, escolhas e opções diversas. A Justiça faz parte dessa igualdade, como forma de que ela possa ser garantida, mas também se relaciona as normas que são criadas pela convivência e costumes. Para que estas normas sejam cumpridas e não sejam arbitrárias é preciso que haja participação, aceitação de todos, ou pelo menos, da maioria da sociedade na formulação de normas. O problema é colocar isso em prática, a dinâmica da sociedade não permite que as respostas sejam sempre adequadas, as interferências e interesses fazem com que sejam quase sempre imprevisíveis os resultados das escolhas e ações em prol da justiça, equidade e sustentabilidade.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O cheiro que a sociedade exala

Para variar, hoje, um conto "fictício":


Ao entrar em um ônibus lotado quase sem espaço e sem ar para se compartilhar o empurra-empurra é algo cotidiano. Desta vez, porém, estava sentado mais ao fundo. Preparando meu espírito para as quase duas horas até chegar em casa pelo menos dessa vez seria sentado. Isso se não ceder meu lugar para alguém mais 'necessitado'.
O andar de uma carruagem seria muito mais veloz, mas nem por isso eu tento me preocupar. A questão do meu assento é mais prioritária. Chega uma senhora idosa, mas ela consegue um lugar mais à frente. Uma grávida se dirige até minha poltrona, ainda bem que tem um lugar vazio ao meu lado. Pronto, o resto pode ir à pé sem maiores problemas, pelo visto vou conseguir ir sentado hoje. Olhando em volta para aqueles olhares cansados e desanimados imagino que minha cara também esteja naquele estado, se não pior. Talvez bem pior. E olha que o dia nem foi tão puxado. Mas já é a rotina ter o ar envolto de cansaço.
Nem dez minutos se passaram e a distância não deve ter passado de uns quinhentos metros. De repente a porta do ônibus se abre e ninguém desce. Ao contrário um ser começa com dificuldades a subir as escadas. O ar vai mudando de figura, daquela sensação existente vai se sobrepondo outra. Uma espécie de indignação, desespero e desânimo. Junto um cheiro de algo comparado a um ralo de banheiro entupido.
Olha a sua volta, olha, mas sem ver e também sem ser visto. Um lugar vaga e é justamente na minha frente, putz penso eu e posso ouvir quase todos em volta dizerem quase o mesmo. Logo depois penso que esse é um pensamento vergonhoso de se ter. Por que ele não pode ter o mesmo direito de estar aí, sentado na minha frente e com o cheiro mais puro da sociedade moderna? E esse cheiro no ar é também o cheiro da hipocrisia que a sociedade finge que não vê.
Apesar das caras feias, das tentativas de taparem os narizes e de reações adversas semelhantes, as pessoas tentam ignorar ao máximo. Logo penso também que ambos os pensamentos que tive antes foram exagerados. Talvez a sociedade não tenha culpa, pelo menos não nós pobres coitados que temos que compartilhar uma lata de sardinha para nos locomover.

Enquanto a viagem vai caminhando e as pessoas tentam se acostumar, umas ainda mostram uma indignidade e descontentamento velados, outras buscam ignorar e tentar agir o mais naturalmente exceto quando o ar é mais adensado e o vento vindo das janelas se torna insuficiente. Até aí sem problemas, mais meia hora e minha viagem termina. Pessoas que vão atingindo seu destino parecem ter a face mais aliviada só pelo fato de estar perto da porta e de já não terem mais que aguentar o cheiro da sociedade.
Os lugares vão ficando vagos, quase ninguém quer chegar perto da figura que exala o cheiro da sociedade, uma senhora distraída se posiciona bem ao lado do sujeito. Fico contando o tempo e observando o olhar e a expressão da senhora.
Nos primeiros segundos tudo bem, mas logo ela começa a sentir algo diferente, sua expressão vai mudando. Olha para os lados, não vê nada. Olha para trás, nada. Até confere os sapatos para ver se não havia pisado em nada, ainda nada. De repente sua percepção parece aumentar e olha finalmente para a criatura que havia evitado. O olhar e a cara de nojo como tantas outras já haviam feito antes.
Exatamente dois minutos e quarenta segundos e a mulher vai o mais longe possível. A senhora grávida ao meu lado está quase desmaiando. Acho que os sentidos estão mais aguçados, mas até aí ela tentou se portar da forma mais natural possível. Um ponto depois, ela desce. Outra pessoa mais à frente já não suporta mais e desce também, ou será que chegou ao seu destino? Não sei, talvez nunca saberei, mas não importa.
Um casal se dirige para o local que já está virando uma zona temida e evitada, apenas algumas figuras permanecem, eu inclusive. Mas não sei se era por preguiça ou pela situação que estava suscitando tantas indagações. O casal parece apaixonado, nem percebe em que lugar estão sentando. É justamente atrás do lugar que já está virando uma quarentena sem nem precisar de aviso.
As caretas continuam, o desespero por um lado aumenta, a tentativa de agir normalidade também. Mas independentemente das escolhas e reações das pessoas a unanimidade é ignorar o "incômodo". E até a metade da viagem, ninguém incomodou ou foi incomodada diretamente pela pessoa. O cheiro parece ser a única coisa, mas já está se tornando para algumas criaturas, demais. Está se impregnado e se espalhando.
Eu olho para as pessoas nos olhos, não sei que expressão fiz, tentei ser o mais neutro, tentei olhar sem preconceito. 
Uma fração de segundo nosso olhos se encontram. Posso estar enganado, mas via um feixe de luz muito pequeno, indicava um pouco de vida no olhar do cidadão ignorado. As marcar no rosto e a feição mais cansada que a minha, mostram uma vida dura e de sofrimento. Um tempo em que os preconceitos e as dificuldades ficaram para sempre marcados.Essa fração de segundo passa a reação foi de abaixar a cabeça envergonhada de ambos os lados, mas da outra parte pareceu maior que a minha.
Não pude deixar de achar uma certa ironia, agora eu estava sendo evitado, vai saber. Como existem loucos por essa cidade, talvez possa ser para evitar alguma reação de indignidade ou violência da minha parte. Não dá para saber ou mesmo conhecer as pessoas que dividem esta viagem.
Isso se confirma com a explosão do senhor apaixonado. Nem dez minutos haviam se passado e ele grita em alto em bom som: "Nossa, tem algum esgoto a céu aberto?!". "Que fedor, hein?!" A namorada concorda, talvez não com palavras, mas certamente sua expressão de nojo era bem maior que qualquer outra na condução. Olhando com mais atenção para o casal percebi que eram religiosos, pelo menos os apetrechos que usavam assim indicavam. A reação começou a ser maior e não vale a pena reproduzir, olhando para o lado via algumas cabeças balançando. Muitas em concordância.
Não sei se isso levou a alguma reação ou se já era o ponto da pessoa que motivou esse conto, mas ela se levanta e desce no próximo ponto. Um novo encontro de olhar e a luz que já era pouca, parece diminuir. Talvez tenha sido só uma sombra, não tenho como saber. O cheiro da sociedade continua pairando no ar. Acreditei que a hipocrisia era mais forte que o próprio cheiro da sociedade.
Nem cinco minutos depois da manifestação de incômodo, o casal desce. Isso, realmente me incomodou mais que qualquer outra coisa da viagem. Mas ficar indignado não levaria a nada. Vou escrever essa situação, pensei eu....
Para muitos isso pode ser considerado um conto, uma fábula, algo com uma moral por trás ou não. Quem sabe um dia essa situação seja apenas um mito ou uma lenda....






quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um dia sem carne. A já odiada segunda foi escolhida, será que vai emplacar?

Mas será que é um dia bom? Será que vai emplacar?
As chances são boas, mas a segunda-feira já é estigmatizada,costuma ser um dia estressante, cansativo, ter de voltar ao trabalho não é agradável para muitas pessoas, voltar a rotina e encarar o resto da semana. Claro que esse é o argumento mais tosco, mas não queria sobrecarregar a pobre segunda. Também é óbvio que não é algo obrigatório e impositivo que você tenha que cumprir ou sofrer uma multa por almoçar uma picanha em plena segunda. Acho que não chega a tanto.
É uma tentativa de conscientizar para o problema da alimentação e a busca de alternativas, variar os dias, mas pelo menos uma vez por semana evitar o uso de carne e seus derivados. Pelo menos foi isso que eu entendi da campanha. Acho que a segunda foi só uma forma de simbolizar... A religiosidade pode ser útil nessa campanha, afinal na sexta-feira santa dos católicos pode se tornar mais um dia sem carne. Os judeus e muçulmanos já não comem carne de porco normalmente então é uma contribuição. Os hindus nem se falam, afinal a vaca e tantos outros animais sendo sagrados é uma benção.
Mas estava pensando nos dados apresentados e imaginando que se houver mesmo uma redução efetiva no consumo de carne, isso não significa que automaticamente essa energia economizada em água e diminuindo o efeito estufa irá mesmo beneficiar a humanidade. Sabe-se lá onde ela será usada não é mesmo? E um dia sem comer carne, também não significa redução no consumo total de carnes. Alguém sempre pode querer compensar o não-consumo de um dia em um outro qualquer...
Por isso a campanha deve também buscar a conscientização que efetive a redução do consumo e que crie alternativas e propostas para que uma economia real, mesmo que não haja um dia específico para isso.
Baseado nessa campanha poderíamos ampliar para outros setores que ajudem não só na preservação ambiental. Assim poderia ser "UM DIA por semana SEM:"

1 - Violência. Sem roubos, sequestros, assassinatos ou brigas de trânsito. Sem picaretagem ou corrupção na Política, Congresso e Repartições Públicas. O quanto será que isso economizaria?

2 - Banho. Vai dizer que você toma banho todo dia? Só evite que seja justo o dia daquela caminhada de duas horas no sol escaldante ou depois daquela ginástica e/ou academia. E para quem usa banheira, busque reutilizar a água sempre! Menos em banheiras de Motel...

3 - Carro. Vamos ampliar o dia mundial sem carro para semanal. O rodízio em São Paulo tá aí para dar uma mãozinha, em vez de sair mais cedo ou comprar outro carro, por que não contar com o velho transporte público?

4- Trabalho. Todo mundo merece folga, por que não durante a semana?!

5 - Ver Televisão. Venhamos e convenhamos que essa é a mais fácil de todas, por incrível que pareça.

6 - Internet. Tá eu sei que é praticamente impossível para muita gente viciada, eu incluso, mas não custa tentar. Que tal fazer logo um dia sem uso de Eletricidade, podemos juntar muitos itens nesse dia! Eu confesso que não conseguiria, pode ser algumas horas do dia? Tá, quando eu estivesse dormindo não valeria...

7 - Agrotóxicos.Tá certo que existem produtos orgânicos e, para mim, todos os produtos deveriam ter sua alternativa orgânica ou serem já todos orgânicos.

8 - Trocar de Roupa. Ué, menos roupa para lavar significa economia de água, a não ser que você use uma máquina de lavar. Aí você tem que esperar acumular um número significativo de roupa para não ser considerado desperdício, mas ter muitas roupas no armário, em si, já poderia ser considerado desperdício? Enfim, não troque de roupa todo dia, somente as íntimas já são o suficiente!

9 - Comprar. Sim é possível passar vários dias sem comprar nada, principalmente quando você não tem dinheiro, o importante é não comprar coisas fúteis e buscar sempre o consumo consciente. Sim, mais de dois ou três sapatos podem ser considerada futilidade. Para muitas pessoas mais de um já é muito fútil...

10 - Telefone. Essa não sei o que pode contribuir além do consumo de energia, no caso de celular e sem fio e no fim do mês para todos os caso, aliás se puderem se comunicar pela Internet (MSN, Skype e tantos outros) dizem que a emissão é menor.

11 - Música eletrônica. Querendo ou não "fanque (funk) brasileiro é "eletrônico". É só para diferenciar que tem música que não gasta energia, mas ainda pode ser de mal gosto para uns, mas não estamos aqui para discutir gosto. Bom, na verdade, estamos, mas não agora.

12 - Jogos eletrônicos. Devemos diferenciar da Internet e música, mas o princípio é o mesmo.

13 - Fila. Já pensou você chega no lugar e já é atendido o quanto que isso economizaria? Pelo menos do seu tempo....

14 - Trânsito. Em São Paulo, acho que nem os feriados prolongados estão conseguindo fazer esse milagre.

15 - Produtos Industrializados. Aquela gororoba embalada ou enlatada que às vezes você chama de janta só porque esquenta no micro-ondas pode e deve ser evitada. E larga logo o refrigerante e a cerveja, pelo menos por um dia. Aliás, o ideal, nesse último caso, seria só UMA vez por semana, e olhe lá! Pode acrescentar frituras e guloseimas a essa lista também. Não esqueça o cigarro e outras substâncias tóxicas.

16 - Poluição. Infelizmente isso nem mesmo deveria existir e não é uma coisa que se possa controlar assim tão fácil, não dá para falar que quarta é o dia sem poluição, pois mesmo que não ocorresse nenhuma emissão no dia ainda existiriam resíduos acumulados de dias anteriores. Não quer dizer que não seja uma má ideia. Um dia sem Emissão de poluentes, sem desmatamento seria ótimo.

Bom, claro que algumas dessas propostas não devem ser levadas tão a sério, existem inúmeras outras que com certeza você pensou enquanto estava lendo. Algumas das propostas acima pareceram absurdas, enquanto outras soaram razoáveis. O interessante é olhar para elas e refletir sobre sua possibilidade e importância, para você e para o mundo em geral. Se não der para fazer um dia da semana sem, que tal diminuir?
Não é um dia que muda o mundo, mas se você parar para pensar são16 sugestões, mais o dia sem carne já são 17 para uma semana de apenas 7 dias, isso é considerável. E ainda existem milhares de opções que você pode ir descobrindo.
Em um próximo texto vou tentar incluir "UM DIA por semana COM". Nossa sociedade está muito acostumada a uma visão repressora, punitiva e positivada das coisas, precisamos pensar em outras opções e outros aspectos também não só o que está errado, mas o que está e o que precisamos mais para dar certo.



domingo, 11 de outubro de 2009

Informações, manipulações, desilusão.

Um velho ditado ou a sabedoria popular tem por trás uma moral, uma visão de mundo, uma história, mas ao longo do tempo perdeu-se o contexto e as maiores referências e se transformou em um dito popular em que continuam a existir uma certa moral, mas agora com roupagem de verdade universal e imutável de tanto serem repetidos.
A história do petróleo nas nossas vidas tem relação com o ditado acima, mas de certa forma invertida: "nem tudo que é ouro, reluz". Sim, o também conhecido ouro negro. Produto primário para milhares de produtos utilizados no nosso cotidiano e sem perceber, não só combustível, mas o plástico, borracha e uma série e outros derivados. A indústria petroquímica vem se desenvolvendo no último século e é o setor estratégico e muitos países e quase todas as sociedades são dependentes desse produto. Claro que a intensidade dessa dependência varia e nem todas as pessoas utilizam produtos a base de petróleo, mas essas são cada vez mais raras.
Isso não significa que não existam também cada vez mais alternativas como os combustíveis e materiais desenvolvidos através de plantas e outros tipos de materiais e também a própria reciclagem. Ainda assim, esses materiais e métodos alternativos são ainda pouco aplicáveis em escala comercial necessárias para substituir o 'ouro negro', são vários os motivos, seja pelo alto custo, pela falta de investimento ou interesses diversos, entre uma série de outros fatores.
Outra questão é o tempo, há mais de um século que o petróleo e seus derivados vem ganhando espaço e dominando as bases industriais. A preocupação ambiental contemporânea tem se expandido há pouco mais de quatro décadas e sofrendo para se estabelecer, nos mais diversos setores. Podemos até mesmo dizer que a questão ambiental ainda não se estabeleceu como prioridade para muitas pessoas, empresas e sociedades e os motivos vão desde a falta de conhecimento e perspectivas até interesses diversos, medo de mudança e perda de status, entre outros.
Ainda temos o problema do discurso, da adequação e aceitação. Só dizer que algo é importante, não quer dizer que se está fazendo algo a respeito. As propagandas e o uso indiscriminado da palavra 'eco' como adjetivação de um produto nem sempre pode corresponder a realidade da sua produção. Isso também é motivado pela falta de uma aceitação e visão única do que é ser Sustentável e ecológico. Não é ruim que haja diversas visões, mas a falta de diálogo e interação entre essas visões é o que preocupa.
Muitas vezes nem mesmo se pode falar em um senso ou base comum entre eles. Como se pode falar em uma sociedade mais justa e sustentável sem uma interação e integração igualitária e participativa? Sem uma solidariedade comum e universal? Sem uma vida digna, plena, livre e decente? Não é a igualdade homogênea, nem impositiva, nem a solidariedade por pena ou hierárquica, ou uma vida sem regras, leis e respeito.
Como foi dito acima sobre a questão de que nem tudo que é ouro reluz, quer dizer justamente a respeito do que é importante e essencial para a sociedade como um todo. Se o petróleo ganhou o status e a importância atualmente para ser considerado como ouro, diz respeito não só a suas propriedades e características, mas também sobre a visão de mundo e interesses que consolidaram essa importância. O próprio ouro pode ser questionado sobre sua importância e valor.
Isso quer dizer que é a importância que torna um tipo de metal ou algo fossilizado é produto de um tempo, de contexto, de seu uso, mas também é indispensável para isso a aceitação do ser humano. Se o ouro tem o status e a importância que tem hoje é por que a maioria de nós aceita que o ouro tenha esse valor e importância. Lembremos para isso a Ilha utópica de Thomas Morus (ou Thomas More) em que quase não se usa dinheiro, ou melhor, quase não há utilidade para ele e que ouro e pedras preciosas são marcas dos escravos e criminosos.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Quando a dúvida passa a ser superior a qualquer coisa...

Se você não tivesse dúvidas em nenhuma circunstância, o que isso significaria?

Sim, pode parecer uma coisa boa, ou nem tanto assim. Depende da interpretação à pergunta acima. Explico: Se você acha que o motivo de não ter dúvidas é por que sempre se SABE a resposta, seria um fato impressionante; mas se você acha que é pelo fato de FINGIR QUE SABE a ponto de se convencer que sua resposta é verdadeira independente da circunstância, aí a coisa fica mais complicada.

Existem momentos em que o que você mais quer é não saber o que acontece.

Infelizmente esse não é um privilégio. Ser uma pessoa bem informada, atualizada a todo o momento é um requisito básico para muitos, deveria ser para todos. Mas ser uma pessoa constantemente informada requer um certo esforço, tempo e dedicação. Seja a mídia em todas as suas formas, seja a família, amigos ou colegas de trabalho, escola existem diversas formas de se manter atualizado e a par das coisas. De assuntos internacionais, políticos, econômicos e do seu país e cidade a últimos capítulos de novelas, programas de entretenimento e até mesmo fofocas de vizinhança.
Essa "rede de informações" que você adquire com o tempo pode acabar desgastando sua capacidade de raciocínio e de retenção de assuntos. Somos tão bombardeados por informações que acabamos por não refletir sobre elas.
Se vinte pessoas vierem até você e te falarem uma notícia qualquer, mas que você não ouviu em nenhum lugar antes. Você acreditaria?
Dependendo do tipo de fonte, a veracidade é outro fator importante e nem sempre é tão fácil de saber. O que realmente acontece e como foi que ocorreu pode variar, não o fato em si, mas como ele é anunciado e como chega à população em geral. Boatos são facilmente espalhados e muitos podem vencer no cansaço da super exposição.

Isso quer dizer que devemos duvidar de tudo e todos que ouvimos? Ser céticos e incrédulos?

Acredito que não. Mas cautela é fundamental. É difícil saber os motivos e interesses que levam a determinado evento se tornar público (virar notícia) e outros serem "deixados de lado" (abafados ou distorcidos). O fato de se estar falando mais sobre a questão ambiental não quer dizer que os problemas estejam sendo solucionados. Também não quer dizer que quando se deixa de falar significa que já esteja resolvida. Não podemos ficar apenas no imediatismo e no modismo.
Ser bombardeados por informações pode ser realmente assustador e desesperador, mas é preciso calma e reflexão para distinguir notícias e fatos de alarmismo e propagandas enganosas. Como fazemos isso se torna o desafio e é o que mais pode cansar.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

As percepções que queremos (Aprofundando o olhar)

Será que a percepção é uma coisa é limitada ao nossos conhecimentos, experiências e sentimentos? Ou envolve algo a mais? Quais suas implicações e consequências e como podem afetar nosso cotidiano. Ainda não cheguei a nenhuma conclusão definitiva e acredito que não haja uma.
Talvez pelo fator mutável, dinâmico e complexo, tanto da percepção em si como do próprio ser. Os contextos em que são analisados e o que se sabe sobre um assunto podem mudar e se transformar. Uma pessoa que torce por um time, que tem uma meta ou tem uma causa a defender não quer dizer, necessariamente, que será assim para toda sua vida. Uma série de fatores contribui para mudanças nesse sentido. Variam desde o interesse pessoal (mudança de ideias, adoção de uma nova cultura, sociedade ou religião), condições financeiras, de saúde, do fim de um time e causa ou até cumprimento dos objetivos propostos.
Em um passado próximo acreditava-se que as doenças eram obras de espíritos malignos, maldições ou coisas do tipo. E essa percepção não deixou de existir para muitas pessoas e culturas. Em alguns casos (não importa o quão racional você seja) há dúvidas sobre os eventos apresentados.
Claro que manipulações, omissões, ilusões devem ser vistas com cautela, pois se aproveitam de momentos de profundo impacto para se espalhar. Isso dificulta cada vez mais acreditar em algo sobrenatural, mas ainda assim há muitos que creem e, talvez, mais ainda aqueles que querem acreditar que há mais coisas que vão além das nossas capacidades.
Não estou defendendo qualquer esoterismo ou espiritualidade, embora acredite que nenhum ser humano esteja isento de acreditar em algo. Mesmo não acreditar em um ser "superior" é um tipo de crença, por mais que ela não esteja plenamente desenvolvida ou estruturada.
Estar em dúvida faz parte do ser, ter certezas sobre certas coisas não está relacionado apenas com estar certo ou errado, embora pareça assim para muitos é muito mais complexa. Está ligado também a visão de mundo que você tem, suas percepções, crenças, culturas, época, sociedade, contexto e suas certezas individuais, morais e éticas.
Alguns fatores podem parecer imutáveis como crenças e ética, por exemplo, mas vale lembrar que nem as religiões de hoje são as mesmas. Mesmo que algumas tradições, costumes e dogmas estejam preservados houveram mudanças, adaptações e transformações que garantiram uma certa continuidade dos ritos. Se podemos ou não chamar essa continuidade de desenvolvimentos, crescimentos ou evoluções é um outro assunto.
O que importa é percebermos então que mesmo nossas percepções podem ser manipuladas, por isso a crença religiosa é um exemplo tão valioso, pois nos permite ir além da objetividade e racionalidade. A questão ambiental tem entre seus desafios a percepção do que é importante, pois cada vez que se torna a vedete do século, e se torna menos objeto de contradições, afinal quem é abertamente contra o ambiente? Mas isso leva a outros problemas e indagações.
A preocupação ambiental seria capaz de gerar dogma? Poderia servir como instrumento para o discurso e a dominação das "massas"? Isso é extremamente grave, aterrorizante e perturbador. Embora seja muito difícil de ocorrer é preciso ficar atento com os discursos e com possíveis deturpações ou a instrumentalização da questão.
O ambiente não é então um objeto nem uma entidade independente, faz parte de nós tanto quanto fazemos parte dele. É o inicio, ou melhor, a base que deveria ser considerado ao pensar a sociedade, cultura, economia, saúde, educação, religião, alimentação, entre tantos outros fatores e que permeia todas as relações direta ou indiretamente.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Será o fim da crise? O que podemos aprender com as dificuldades.

Será mesmo que estamos saindo da crise financeira mundial que se iniciou há mais de um ano? Será que vamos voltar à "normalidade"? Mas aproveito esse momento para refletir sobre essa aparente normalidade. Afinal, o que podemos esperar de melhor e o que podemos aprender com essa situação?

A crise financeira mostrou a fragilidade e a insegurança que estão presente nas negociações e investimentos em escala mundial. Mas seus resultados foram devastadores: desemprego, medo (de ser demitido, de ficar sem casa, de perder suas economias, entre outros medos), podem ser citados como exemplos dessa realidade caótica para muitas pessoas e muitos países.

Nesse momento, as preocupações mais imediatas são ter um teto sobre sua cabeça e algo para comer. Isso pode parecer exagero para alguns, mas para outros o cenário foi muito mais terrível do que se poderia imaginar. Não há como saber efetivamente os impactos psicológicos e subjetivos, mas eles existem. Afeta inclusive como refletir e pensar sobre a crise, geralmente apoiada pela experiência própria.

A questão ambiental não é diferente, dependendo do ponto de vista e da visão de mundo de cada um pode ser ora uma questão sem importância que não deve ser considerada, ora a questão para o futuro do mundo e da humanidade. Seja qual for a perspectiva adotada o que é interessante é que cada vez mais vemos a questão ambiental presente e cada vez menos questionada como fundamental. Mudam os discursos, mas são cada vez menores as críticas diretas. A palavra do dia é a chamada "compensação".

Podemos (teoricamente e tecnicamente, para muitos casos) destruir uma boa parte do ecossistema, desde que se faça um programa de preservação e conservação que possibilite a continuidade de sua existência. Isso quando não se pensa em destruir um lugar para conservar outra área. Exemplo: Vou construir uma fábrica que necessita tomar uma parte da Mata Atlântica, mas vou compensar fazendo uma reserva na Floresta Amazônica. Esse é um discurso PERIGOSO E COMPLICADO e até no último caso FALSO.

Destruir um bioma, um ecossistema complexo com características próprias em detrimento de outro é, para não dizer outra coisa, besta. O mesmo se dá para as reservas ou reflorestamentos de "eucalipto" ou qualquer monocultura. Daqui a pouco vamos ouvir gente dizendo que plantar cana-de-açúcar é uma grande contribuição para a natureza e que deveríamos considerar a cana para programas de reflorestamento...

Não que não existam pessoas defendendo o plantio de cana, assim como há pessoas que defendem o uso da energia nuclear. Esta última que fora vilã por muitos anos, vem se transformando em uma das alternativas para conter o aumento do efeito estufa, por não emitir CO2. Os discursos são tão poderosos quanto as ciências e tecnologias, o seu uso e aceitação dependem de fatores diversos.

A crise que se inicia tecnicamente no setor financeiro tem implicações em todos os setores da sociedade. As previsões de que ocorreria foi ignorada por muitos, mas sem querer tirar méritos de quem estava 'certo', há quase sempre alguém torcendo e prevendo contra. A diferença está nas bases dos argumentos e das reflexões apresentadas. Nem simples achismo, nem acúmulo de dados ou informações fazem a diferença sem apoio e desenvolvimento de ideias e uma certa lógica. Há também os interlocutores e defensores de um lado e os críticos e detratores de outro, o poder do discurso é tão forte quanto o discursante. Uma palestra motivacional seria um fracasso se feita por uma pessoa desiludida e desanimada sem o menor talento para falar em público. A não ser que a intenção real não fosse motivar ou se ele fosse tão ruim, que chegasse a ser bom o bastante para motivar as pessoas a pelo menos não ser como ele. Se por algum milagre essa palestra funcionasse poderia considerar como sorte, como deturpação dos objetivos e motivos iniciais ou como uma anomalia?

Esse momento que estamos passando nos ajuda a refletir sobre a importância das ações e dos discursos que as legitimam.

sábado, 5 de setembro de 2009

Será possível uma sociedade mais justa e sustentável no Brasil? O Efeito Marina Silva

A filiação da Senadora e ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina da Silva ao Partido Verde (PV-AC) leva a um questionamento e acirra a disputa pré-eleitoral que vemos em andamento. A corrida oficial só se inicia no ano que vem, mas a filiação de Marina pode indicar grandes mudanças nesse cenário. Mas antes de ficar empolgado, queria colocar alguns pontos em pauta e tentar entender como o "fator Marina" pode contribuir para a política ambiental do Brasil e do mundo.
Primeiramente devo dizer que fico muito empolgado pela possibilidade de ter Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima como a próxima presidente do Brasil. Achei que foi de muita coragem, deixar um partido em que atuou por tanto tempo, para seguir seus ideais e difundir suas ideias. Admiro seu histórico e sua garra, com certeza é uma figura emblemática e mundial. Mas será isso suficiente para as próximas eleições? Contra o governo mais popular desde sabe se lá quando? Que conseguiu um séquito de admiradores nos últimos oito anos de governo federal, mas que ao mesmo tempo tem uma ala crescente de descontentamentos e incomodados?
Quanto ao Partido Verde (PV) tenho algumas restrições, desconfianças e dúvidas quanto a organização, eficiência e estrutura, mas que podem ser corrigidos. Os problemas serão tremendos tanto para a campanha como o próprio futuro governo se não forem tomadas medidas e ações que sanem qualquer dúvida quanto a esses problemas e devem ser feitas o mais rápido possível. A ideologia e os objetivos do PV não são tão claros quanto deveriam, não são tão transparentes quanto dizem, nem tão efetivos quanto podem. Nem vou falar das alianças políticas ou da expressão e projetos de seus integrantes, mas com certeza eles estarão em evidência nos próximos meses. Mas não sei em que ponto isso vai ser decisivo, afinal de contas, vivemos em um país em que conta muito e até para muitos o personalismo e a propaganda...
E se o personalismo imperar, Marina tem grandes chances de vencer, mas se apenas isso for levado em conta não teremos condições de estruturar um Brasil mais justo e sustentável facilmente e explico o por quê: A burocracia, o Congresso Nacional - Senadores e Deputados - são fatores principais. Isso significa que só Marina Silva torna esse projeto limitado, mas não impossível. As leis e regras da política ambiental passam por tramites burocráticos que podem levar muito mais tempo e serem neutralizados por bancadas fortes e influentes como o PSDB, DEMo (ex-PFL), PMDB.
A eleição de Lula seria bem mais difícil sem a mega coligação montada em 2003, algumas más-línguas podem dizer que o terno ajudou também, mas que seria muito mais difícil aprovar projetos e leis com tanta rapidez sem o apoio do PMDB, por exemplo, seria.
A oposição é uma coisa boa, mas quando vão além dos interesses pessoais e partidários e passam a considerar as necessidades e interesses da sociedade como um todo, caso contrário são apenas manobras para auto-promoção ou para tornar o governo uma máquina ineficiente e colocar a oposição no governo. Ou seja, um ciclo perverso e vicioso altamente prejudicial é algo a ser evitado. E para quem isso basta um exemplo muito simples e genéricos: imposto e salário mínimo. Oposição e governos divergem, não importa tanto qual partido.
E é essa lógica estapafúrdia, inútil e babaca que eu gostaria de combater. Essa é uma das intenções desse texto de hoje, pois não gostaria que o "efeito Marina" vire uma decepção como foi Lula para muitos e Obama nos EUA. Indivíduos não fazem milagres, pelo menos não constantes e não em política, pelo menos não ainda ou que eu saiba, mas esse é uma outra preocupação e medo a ser tratado outra hora. O que quero dizer é que UMA andorinha não faz verão. UMA formiga não enche o formigueiro, UMA abelha não faz mel e uma série de outros exemplos da vida animal para mostrar que nossa vida é coletiva e que cabe a todos os indivíduos fazer da sociedade um lugar mais digno, justo e sustentável. Cada um em seu modo de vida, profissão, vontade e interesses, ideias e ideais, cultura, religião, conhecimentos, saberes e práticas. Somos diferentes por natureza, por sociedade, por experiências, histórias e em diversos aspectos, mas essas diferenças e outros motivos nos tornam semelhantes, mas parece que cada vez mais esquecemos disso. Precisamos de mais solidariedade, mais entendimento, menos motivos para desconfianças e medos.
Para concluir, as possibilidades do "fator Marina" ser uma fonte de mudança na política brasileira é grande, seu histórico e perspectivas são animadores. Mas ainda assim não serão suficientes sem planos e propostas que demonstrem políticas mais transparentes e efetivas. A senadora Marina Silva tem um legado e uma potencialidade enorme, mas deve se aproximar mais do povo e convencer que seus projetos e ideias são viáveis, a propaganda deve ser cautelosa e direta, mas não enfadonha e repetitiva. Usar a mesma tecla e o mesmo tom para tudo pode ser um tiro no pé, isso vale para qualquer candidato. Ser ousado e inovador não é ser maluco, nem extremista, ser comunicativo e engenhoso não é ser enfadonho ou arrogante. Enfim, são vários os desafios, mas são grandes as oportunidades.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O que estamos fazendo de certo?

Hoje andei pensando um pouco sobre como retornava a escrever e percebi que os relatos e as notas escritas tem em sua maioria aspectos de impessoalidade, esse meu estilo de escrita foi assim motivado por uma vontade de organizar meu pensamento, discutir e refletir temas e assuntos, sem tomar um partido, defender ou desacreditar ideias e fatos.
É claro que nem sempre isso é possível e nem sempre é essa a proposta. Mas eu acredito que podemos falar de muitos assuntos e temas sem precisar ser unidimensionais e irracionais só por considerar uma visão de mundo como "melhor". O que isso significa?
Vamos entrar em um terreno nebuloso e pouco compreendido, mas que como será polêmico acho que o exemplo será bem entendido e já retoma muito do que já disse. Iniciemos essa reflexão com uma pergunta aparentemente simples: Qual religião é a melhor? Ou melhor, existem religiões?
Para muitas pessoas essas são perguntas realmente simples: "a melhor religião é aquela em que se acredita, da qual faz parte, que te conforta, acolhe e completa". Para outras essa é uma pergunta mais complexa e que exige pensar em outras séries de questões: Estamos falando de melhor em termo de adeptos? De crentes? De números de milagres? O que é religião? O que define o que é ou não melhor? Isso é uma questão quantitativa? Qualitativa? Moral? Ética? Em como influência e tem impacto no cotidiano? E uma série de outros questionamentos intermináveis contidos em uma "simples" pergunta, que não será respondida aqui.
Não é essa a intenção, nem o foco que motivou tal exemplo. A questão religião pode ser trocado por outro, ainda assim existiria polêmica: música, time de futebol, moda, ideia, teoria, desenvolvimento etc etc... Não é a religião em si que nos interessa agora, mas as implicações que essa e outras discussões geram.
O que é melhor? Isso é o que me interessa discutir hoje, mas convenhamos que isso também é uma questão pessoal. Assim como cada um tem uma religião e, embora ela possa ser compartilhada por milhares de outras pessoas existe sempre um nível de interpretações , aceitações, convicções e práticas que são individuais e até únicas. O que significa que embora haja uma religião, esta é composta por várias outras vertentes e implicações, uma visão dominante não significa uma visão única.
Dito isso a conclusão é óbvia: o que é bom para um não é para outro e vice-versa. Então, quer dizer que é impossível termos o melhor planeta para todos, pois sempre alguém vai ser prejudicado? Devemos ter cuidado, então, para que a visão de uma minoria não seja imposta, nem que a maioria dominem e subjulgem a minoria?
Nem sempre se pode dizer o que é melhor. Em certos casos isso é uma visão muito relativa e a religião é um tema expressivo, pois sugere uma coisa que está presente em poucas reflexões: Embora esteja intimamente ligada ao humano é uma daquelas questões que ultrapassam a simples humanidade, que tentam explicar tudo ou quase tudo, até criar normas e regras de conduta e ação. O Humano nesse caso é secundário, respondendo, em certa medida, à forças maiores que "qualquer coisa".
São questões complicadas de se pensar e analisar, mas que trazem maiores reflexões e questionamentos pessoais. Responder algumas das perguntas levantadas aqui é conhecer um pouco mais de si mesmo e quando se conhece melhor é mais provável a chance de "escolhas conscientes", de "ações planejadas" e de poucas chances de arrependimentos futuros. Não podemos esquecer o contexto e as implicações e consequências das escolhas.
Li uma frase muito boa em uma edição do jornal da Associação de Professores do Estado de SP, ou algo parecido, se não me engano foi uma frase de um concurso publicado pelo jornal que envolvia a questão ambiental e diz mais ou menos assim:

Sempre se fala sobre a preocupação do mundo que estaremos deixando para os nossos filhos.
Deveríamos nos preocupar também em que filhos estamos deixando para o mundo.

A pergunta do título não é só uma questão sobre as escolhas que fazemos, mas também como elas são feitas e quando. Também não posso ignorar o poder das ideias, da cultura e do pensamento seja individual ou não.

Férias longas, mas sem o descanso devido.

Olá, sim por um momento achei que não iria conseguir dar continuidade, mas depois de uma (férias???)_ corrida, estarei de volta, tentarei ser semanal, mas há coisas que estão além da minha capacidade, independente do que ocorre entre o céu e a terra... por enquanto espero que apreciem mais um pouco de seja lá o que estou fazendo aqui!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Férias...

Tentei, mas não consegui conciliar tudo, então por enquanto o blog está de férias, provavelmente até agosto.

Abraços a todos,

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Uma cultura várias cabeças, um ambiente várias culturas. Notas sobre o medo incerteza insegurança

Se pensamos que hoje é tudo que importa, não é todo errado - pelo menos segundo uma grande massa de seguidores do carpe diem (simplificado como aproveitar o tempo e o dia) - ainda mais se pensarmos que o futuro não existe, a não ser como conceito e percepção de um tempo que não vai chegar. Mas isso não significa que uma preocupação sobre o tempo que virá é inútil, talvez seja um lembrete que não é a única coisa que deve permear nossos pensamentos. A questão ambiental passou muito tempo em evidência por suas preocupações com o futuro do planeta, do mundo e principalmente pela sobrevida das próximas gerações e todas as formas de vida em geral.
O agora também é motivo de indagação, preocupação. Não podemos cair na falácia do imediatismo. O agora é fruto de um contexto, de uma história e uma série de fatores e peculiaridades que moldaram e continuam a interferir no tempo e espaço, a natureza, a paisagem, a sociedade, a cultura, a educação, a economia e diversos fatores incomensuráveis ou imperceptíveis em sua totalidade. Assim é impossível a um único indivíduo, ou mesmo grupo, conhecer todas as variáveis que resultam neste agora. Mesmo que fosse possível conhecer e saber todos os fatos que ocorrem no mundo seria um movimento constante e infinito que faria com que a análise e interpretação, além de um problema logístico para separar e catalogar tudo, poderia ser tarefa inútil.
A maioria de nós, pobres mortais e humanos, vivemos e nos baseamos em uma representação da realidade, filtramos acontecimentos, eventos, notícias e conhecimentos que sejam mais relevantes e marcantes para cada um, ou seja, está inserido em um contexto – social/ econômico/ político/ cultural/bio/fisio/químico/histórico - uma conjuntura e outros pequenos fatores que moldam e fazem parte do cotidiano. Mesmo uma pessoa que nunca esqueça nada do que aprenda ou tenha visto não teria condição de saber tudo que acontece no mundo em seus mínimos detalhes o tempo todo sem acarretar em algum problema sério. Para começar não é possível estar em todos os lugares o tempo todo, mesmo que houvesse câmeras em todo lugar do mundo, temos apenas dois olhos e dois ouvidos... Nosso cérebro não foi feito para o conhecimento total e absoluto, pelo menos não nas formas descritiva e detalhista imaginadas acima. Nem um conhecimento total e absoluto minimalista – o que é um absurdo e contraditório. Mas não vou me estender nesse argumento não é intenção questionar a possibilidade ou não da onisciência e onipresença do indivíduo, mas só para fechar o argumento com algumas reflexões: mesmo que fosse possível saber de tudo o que ocorre, o que fazer com os “pensamentos”? Será que não importam tanto como as ações? As ideias deveriam ser ignoradas? Devemos distinguir ficção de delírios e ambos de realidade? Realidade é a mesma para todos? ...
Acho que podemos extrair o argumento mais importante desta loucura toda: a formação de uma cultura passa e é permeada por várias destas indagações e muitas outras mais profundas. De certa forma são as formas de interpretações da realidade seguida por uma aceitação e adoção de costumes para explicar de forma inteligível o que é perceptível e vão surgindo determinados espaços e tempos - únicos e singulares marcam uma cultura, moldam a sociedade e todos os outros processos de nossas vidas. Talvez esse pensamento possa voltar a origem da vida em nosso Planeta, uma sequência de eventos que tornou possível a nossa própria existência ainda não foi plenamente compreendida e conhecida pelos seres humanos. Essa “incerteza original” faz parte da ‘humanidade’.
Para explicar nossa origem recorremos às mais diversas teorias, ideias, ideais, religiões que vão do racional, evolucionista, lógico, místico, absurdo, ilógico e irracional. Isso serve para sentirmos mais seguros, confortáveis, entender de onde e o porquê ou porquês da existência. Enfim, as diversas configurações de mundo, sociedade cultura e política que existem hoje têm por trás dele todo um processo, história e contextos que não podem ser ignorados, mas que não é necessário saber os mínimos detalhes para compreendermos como chegamos a essa configuração. Isso implica em fatores e acontecimentos chaves, um destes fatores que não podem ser ignorados são as relações estabelecidas pela dinâmica ambiente, sociedade/ natureza, indivíduo.
E a dinâmica que existe hoje foi alterada com o tempo e sofreu diversas mudanças desde sua configuração espacial e física (construções, invenções, tecnologias de comunicação e transporte), como pelas percepções e visões de mundo (humanos como parte da natureza, compartilhando-a com outros seres, passa até hoje em muitos aspectos a ser vista como ferramenta, como algo a ser dominado). Isso não significa que todos os seres humanos devem ser considerados como uma forma única, fechada, homogênea e rígida, nem a natureza e o ambiente da qual fazem parte, pelo contrário, a flexibilidade e imprevisibilidade dos atos e consequências desta dinâmica é parte constante da nossa realidade.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A incerteza e a certeza caminham juntas! O ambiental deve ser tratado com cautela...

Não estou tentando confundir ou ser abstrato o suficiente para que as afirmações possam depois serem aplicadas a torto e a direito. Nem pretendo ser arrogante o suficiente para que seja usado para algo além do que montar um mapa mental próprio, mas como aqui é um espaço de propagação de ideias e indagações, os resultados, implicações e repercussões do que pode ocorrer depois que saem do controle e do espaço separado pela caixa craniana é múltipla, complexa e praticamente imprevisível. Nesta geração que nos encontramos ao final da primeira década do século XXI, em muitos aspectos visualistas, bombardeando informações, "hits", manias, marcas, modismos, sobreposições superficiais e na maioria passageiras.
Isso leva a uma situação de incertezas constantes na sociedade, a necessidade de adaptações e atualizações se torna exigência profissionais e padronizada. Os próprios produtos tem um limite temporal de uso até se tornar ultrapassado ou obsoleto (comentado em 29/11/2008 sobre a questão do consumo). A própria noção de tempo e espaço viram questões de profunda reflexão e preocupação (o livro de David Harvey "Condição Pós-Moderna" de 1993 é uma ótima referência; também diversos outros pensadores em linhas e percepções diferentes:
Edgar Morin, Enrique Leff, Boaventura de Souza Santos, Dimas Floriani, Manuell Castells, Gustavo Lins Ribeiro, Nestor Canclini e tantos outros) tornam cada vez mais difícil sustentar afirmações ou defender certos pontos sem que haja críticas, ponderamentos e refutações.
Posições contrárias são produtivas e necessárias para o debate atual e são importantes para desenvolver, discutir, enriquecer e ampliar ideias e pensamentos para entender a sociedade. O que fundamenta uma ideia pode perder parte da validade se ocorre uma mudança de perspectiva ou um entendimento diferente. É complicado dizer o que é certo ou o que pode ser "mais certo" ou até "menos errado" para ser explicativo. Talvez podemos arriscar em dizer qual seria a adequada, mas ainda assim com ressalvas.
Arriscar é importante, principalmente quando estamos falando de cautela, não por parecer um movimento contraditório e só por isso importante, mas por que deve nos levar a pensar e repensar todo o processo que nos levou a sociedade atual, considerando ganhos e perdas, analisando impactos de decisões e descobertas e daí para onde vamos é quase um jogo de adivinhações. Quebrar com o modelo, padrões ou ideias que vivemos, aceitamos e nos é dado e até imposto, mesmo sem o uso de força que fica internalizado e enraizado é uma atitude que exige um desprendimento e uma dose de audácia que também leva a inquietação e até um certo desespero, afinal é quase um salto para o abismo. Não é o fim do mundo, mas pode ser o "fim do mundo como o conhecemos" (como é traduzida uma passagem da letra de música do R.E.M.).

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Somos mais próximos do gado do que roedores. A salvação pela tecnologia...

Segundo pesquisa divulgada recentemente e também publicada hoje pela Folha de S. Paulo no seu caderno ciência (Genoma do gado visa carne melhor - reportagem de Eduardo Geraque e Eduardo Scolese - pg. A12). O genoma do gado foi mapeado e constatado que dos 22 mil genes, 80% são semelhantes ao dos humanos, mais próximo dos que os roedores (que são usados em diversos testes laboratoriais com impacto direto para a criação de drogas e tratamentos para os humanos). A notícia enfatiza, de certa forma, o aspecto inovador da pesquisa e que aponta entre as diversas aplicações deste novo conhecimento como melhoria na carne e leite, até mesmo vacas que emitem menos gás metano, um dos responsáveis pelo efeito estufa. Mas algumas indagações surgem, talvez um tanto superficiais dado que estou me baseando apenas na reportagem e não no estudo em si, como será que estamos presenciando o início do fim da carne de “segunda”? Adeus “stroggobofe”? Outras mais filosófico-conceituais como será que os indianos estavam certos ao adorar a vaca? Servirá de justificativa ‘genético-espiritual’ para os puristas, vegetarianos e outros grupos “não-carnívoros” contra o consumo de carne bovina? Muitas outras questões são colocadas com a divulgação deste estudo que vai além do quesito comercial e tecnológico.
Ainda deve haver um longo caminho até que esta pesquisa se consolide e seja aplicado, embora o pesquisador entrevistado pelo jornal, o veterinário José F. Garcia da Unesp de Araçatuba, tenha afirmado que “ Esses dados são para aplicação imediata”. Temos que considerar que este estudo é resultado de seis anos, ainda há muito para ser analisado, o mapa genético é um primeiro passo. Mas um passo que deve ser visto também com cautela. As questões que apresentei até agora podem até ser vistas com e como deboche, mas não por isso deve ser tirada sua validade nem a importância de se pensá-las.
Não quero tornar este debate um juízo de valores fechado e tirar a validade destes tipos de pesquisas que são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade e até mesmo de uma sociedade mais justa e sustentável. Por que não? A sociedade vem em ritmo e dinamismo acelerado e as mudanças podem estar acontecendo em uma velocidade maior do que pode ser percebido pelos humanos (tese defendida por alguns sociólogos, filósofos e estudiosos nos mais diversos campos).
Há certa perversidade quando separamos conhecimento e a aplicação deste mesmo. A engenhosidade e a mente humana talvez ilimitada e, com certeza, impressionante, não importando o tempo em que se encontra, mas o tempo é fundamental para o desenvolvimento do pensamento humano devido a possibilidade de acumular e desenvolver pensamento, técnicas e tecnologias, memórias, ideias e ideais através de meios além da oralidade e do cérebro (desde a pedra, papel, impressos, gravações de voz e/ou vídeo, hoje a internet, os programas de editoração de texto e uma infinidade de recursos que se tornaram possíveis e se iniciaram com a codificação da comunicação – alfabeto e depois a escrita, um dos marcos para o fim da “pré-história”). Ao longo deste desenvolvimento da memória, está o desenvolvimento da sociedade, das normas, regras e princípios legais e morais que permeiam diversas relações existentes.
Enfim a sociedade do século I não é a mesma que a sociedade de hoje, mesmo que ainda existam resquícios e impactos das civilizações daquela época, e é quase certo que não existam mais seres vivos daquele período. Por mais que existam influências de um período para outro, as mudanças ocorrem não apenas pela mudança constante dos envolvidos, mas pela possibilidade de mudanças no pensamento e no comportamento social, mas essa já é outra discussão.
O impacto e desenvolvimentos das novas tecnologias e técnicas vão existir, pois são produtos e consequências de um tempo específico e uma série de fatores e intenções, o conhecimento (afirmar que sua aplicação e não o conhecimento em si que gera problemas) não pode servir de desculpas para mascaram discussões e atitudes, tão complexas e parciais quanto o próprio conhecimento.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ninguém é mais ambiental que alguém... mas exigir algo exige uma troca?

Há algumas semanas em horários variados vejo uma propaganda, na verdade acho que só vi mesmo em um canal, afirmando que "Ninguém é mais ambientalista que o produtor rural..." não vou reproduzir o resto da fala completa, mas em linhas gerais, acabam criticando a falta de "apoio" e de "incentivo" da produção, que as leis vão acabar parando o Brasil... Esperei um tempo antes de comentar esse diálogo para ver se haveria maiores manifestações da mídia em geral, mas até agora parece que passou despercebido ou foi ignorado, talvez como motivo de risada e nada mais. É interessante que esta propaganda apareça perto do planejamento do Novo Código Florestal Brasileiro e a redefinição de certos limites para a produção e sua localização.
A intenção destas linhas não são criticas ou julgamento, nem louvor a tais iniciativas. Também não cabe entrar em detalhes dos motivos que levaram a tal manifestação, somente suposições no momento, mas sem querer me adiantar o descontentamento é evidente. E, talvez, seja produtivo olhar para esse descontentamento com mais atenção. Sem negar a defesa ambiental - afinal de contas, quantas pessoas seriam "suficientes" para ir contra? - a propaganda nos mostra que há uma certa inquietação com os rumos do debate ambiental no Brasil, talvez antecipando uma tendência de regulamentação, maior fiscalização e rigor no cumprimento que se espera deste país, talvez com medo que se tornem mais rígidas (algo que na verdade nunca foi) e acabe na burocratização que paralisa muitos setores da sociedade.
O Brasil é um país de imensas riquezas em quase todos os aspectos possíveis, ganha também cada vez mais prestígio no cenário internacional. E isso exige maiores responsabilidades, controles, transparência, mostras de que somos capazes. Os olhos do mundo nos veem com mais atenção, como a crise financeira perturbou o andamento deste processo é ainda cedo para saber como o Brasil, ou melhor, a percepção das ações brasileiras tem impacto neste novo cenário. Talvez tenha até acelerado a inserção internacional e nacional, mas se vai ser positivo para o mundo em geral e, especialmente, para o país ainda será descoberto.
A raiz do problema está além da discussão socioambiental, mas esta é uma discussão indispensável para entendermos os vários problemas: fome, desemprego, violência, baixa escolaridade, baixa renda, desigualdade social e tantas outras que se relacionam direta e indiretamente, em escalas e intensidades variadas, com a Sustentabilidade. Isso não se limita a região Latino-americana, mas uma discussão que deve considerar e abraçar o mundo.
Não cabe assim que uma pessoa seja sacrificada para a salvação do resto, nem que os prejuízos sejam pagos por apenas uma parcela da população, principalmente se esta parte é a
que já tem poucos recursos, é marginalizada e sofrida, onde as consequências tem potenciais muito mais devastadores e complicados. Mas se nada for feito, nada muda. Se por achar que não há jeito e não devemos agir, então realmente só por um milagre. Engraçado que o milagre neste caso é aquilo que não vem da ação humana, onde a ação humana em si é um milagre em muitos aspectos: a capacidade imaginativa, criativa, de comprometimentos e adaptabilidade é praticamente ilimitada. Um direcionamento, uma reordenação, um (re)pensamento da sociedade, da educação, da produção, do consumo, do que é governo e de quem e para quem ele serve é um começo que deve ser dinâmico, integrador, interativo, inclusivo, includente, abrangente, aberto, coerente, coeso, constante, humano, humanizado, humanizador, ambiental, sustentável, local, nacional, regional, internacional, mundial, universal. Mas que não deve ficar no campo teórico, epistêmico e inicial, deve ser desenvolvido, internalizado, aprendido e apreendido como parte do cotidiano.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Quando o que é sólido se desmancha? Conceituando Moinhos de Ventos

"Tudo que é sólido se desmancha no ar" Marx (influenciou livro de mesmo título escrito por Marshall Berman, lançado em 1982)
"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" Lavoisier séc. XVIII

O problema que podemos encontramos ao trabalhar o "ideal" e a "ideia" de SUSTENTABILIDADE é o seu alto potencial romântico, romantizador e fantástico de um lado e também cético, pessimista e debochado do outro. São espectros extremos de uma mesma linha, mas não são únicos. Dentro destas variações há diversas intensidades e intenções: ou seja podem existir céticos românticos e pessimistas fantásticos, ou ex-pessimistas e ex-idealistas, o que mostra que cada pessoa tem certas predileções ao longo da vida que são flexíveis, mutáveis de dinâmicas. A importância aqui não é saber em que local do espectro do movimento ambiental você, ou mesmo eu, nos encontramos. É saber primeiramente do que se trata esse movimento.
A defesa da "natureza", do "bioma" do "meio ambiente", do "desenvolvimento sustentável", da "educação ambiental" "conscientização ambiental" "racionalidade ambiental", do "futuro da humanidade", e de muitas outras há diferenças e semelhanças, aproximações e distanciamentos, enfoques em determinadas áreas, saberes e conhecimentos. Tudo isso leva a uma infinidade de conjunturas e conjunções, ainda mais se considerarmos que a predileção e interesse de um indivíduo geralmente é múltipla. Mesmo que em uma área do conhecimento são várias as vertentes possíveis dentro de um tema mais abrangente.
Talvez a dificuldade seja justamente perceber as nuances do debate ambiental em seus vários aspectos dentro do espectro maior do movimento ambiental. Falar, pensar e agir em torno desta temática é importante em suas múltiplas dimensões, assim como interligar com vários outros temas relacionados direta ou indiretamente como a questão do comércio, do consumo, da saúde, dos direitos humanos, da ciência, da política, da cultura, praticamente em todo e qualquer tema há uma vertente possível e passível para discutir a questão ambiental. Não podemos esquecer que o enfoque antropo (humano) neste amplo debate é motivado por razões óbvias ou não? Somos humanos? Nos preocupamos com nossas ações? Interferimos e interagimos com o ambiente? Somos importantes?
Para uma pequena reflexão: você já se imaginou ou pensou como seria sua vida se você não fosse humano? E qual seria a implicação ambiental? Lembremos que embora essa projeção e esse processo imaginário possa ser interessante é muito difícil que você deixe de lado sua consciência, embasamentos e experiências que são humanas o que acaba deturpando um pouco esta reflexão. Mas o interessante é justamente essa busca de outros olhares e do distanciamento, mesmo que imaginário, que este exercício possibilita.
A questão ambiental com seus múltiplos e polifônicos enfoques, ideias, saberes, conhecimentos, história e experiências permeadas pelo "biosocioeconomicopolíticocultural" não deve ser visto como um bicho de sete cabeças ou como moinhos de ventos quixotescos e muito além e distantes de nós. É o oposto, cada um é uma parte deste emaranhado, participamos, influenciamos, interagimos, modificamos e somos modificados ao longo da vida. Deixar de lado só por parecer complicado ou trabalhoso demais não deve servir como justificativa para comportamentos e ações.


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Eu até falo sobre a questão ambiental, mas percebo cada vez mais que sou um péssimo ambientalista.

É normal uma pessoa que preze e se envolva no universo das questões ambientais acabe se tornando um grande defensor das causas "ecológicas" certo? Talvez, mas como podem ver pelo título desta nota pessimista, o autor em questão (eu) não tem contribuido para um mundo melhor. Não larguei o consumo de carne, adoro churrasco, até preciso começar a fazer uma atividade que os quilos extras estão começando a acumular. Não consigo reciclar/reutilizar tudo que uso, nem tento convencer (muito) aqueles que são mais próximos a fazer. Afinal, como posso pedir para fazer uma coisa que nem eu consigo?! Reduzir o consumo é uma das únicas coisas, mas consumo pouco por não ter muito para gastar, utilizo o transporte público por não ter um carro ou moto.
Em contrapartida eu economizo com banho, às vezes passo até uns dias sem (só quando tá frio e quando fico em casa). Não consumo refrigerante - mais por não gostar do que qualquer ideologia. Não jogo lixo no chão. Tento mostrar o quão importante é pensar, refletir e conscientizar para a problemática ambiental, vide este blog que estão lendo. Mas estas são iniciativas mínimas, mas são minhas e embora eu de vez em quando pense em voz alta como agora, sei que preciso aprofundar minhas ações em prol do ambiente, mas não radicalizar ou deixar de fazer o que gosto e de pensar o que penso só para me "adequar" a um "padrão" de 'excelência ambiental', (as aspas são sinais de ironia).
Posso não ser uma grande figura, muito menos um exemplo de ativista, um ecólogo, um conhecedor das mais profundas questões ambientais, mas eu tento, para falar a verdade por enquanto eu mais penso e esses pensamentos são compartilhados, debatidos, negados, difundidos para que outros conheçam e saibam e até possam se identificar com as questões que apresento aqui, que possam discordar do meu pensamento, que possam compartilhar dos pensamentos e temas que acredito serem interessantes e importantes nestes debates. Se agora penso a questão e vejo minhas ações como mínimas em relação ao que poderia estar fazendo, também tenho que reconhecer que é um processo, que posso crescer aos poucos e melhorar sempre. O importante é não desistir ou se desesperar só por achar que minhas ações são insignificantes.
Tem muitas e muitas coisas que não posso evitar e estão fora do meu controle e que ainda não tenho condições de ser a pessoa que constantemente atua em prol da preservação planetária, mas faço o que posso, como posso e do meu jeito.

domingo, 15 de março de 2009

Treinamento x Conscientização x Educação X prática

O processo de aprendizagem é lento, difícil, demorado e doloroso, mas não deveria ser assim, ou deveria? Claro que não ocorre em todas as situações e circunstâncias. e nem para todos os temas que nos são apresentados. O que afeta esse processo? Ele pode ser rápido, fácil, prazeroso? Como? (a)onde? Por que? E por que não é assim sempre? Perguntas nesta direção aponta uma série de dificuldades que as sociedades enfrentaram e ainda enfrentam, cada qual com suas próprias características e circunstâncias. Afinal a história não se repete completamente, embora possa haver MUITAS semelhanças, os atores e envolvidos não são necessariamente os mesmos, a percepção e a sociedade também mudam com o tempo. Com isso podemos e devemos aprender muito com fatos e acontecimentos anteriores, mas com cautela e em alguns casos de forma relativizada.
Os problemas 'modernos' são, em grande parte, resquícios de situações que não foram resolvidas ou "previstas" no passado. Caso isso fosse possível, não haveriam crises e preocupações no mundo e, talvez, em um mundo que não houvesse surpresas e dificuldades não houvesse também criatividade e raciocínios "lógicos". Não saber o que vai acontecer faz parte do que somos, de como agimos e pensamos. Ainda que exista uma lógica e conhecimento sobre a brevidade e finitude de nossas vidas há uma preocupação com o FUTURO. Seja por acharmos que vamos viver por muito tempo, seja preocupado com a próxima geração.
A educação e a memória são interligadas. O progresso ocorre 'superando' dilemas, problemas e dificuldades que surgiram e vão sendo resolvidas ao logo do tempo, o que não deixa de criar novos dilemas, problemas e dificuldades. Cada geração pode ser diferente, mesmo que os problemas sejam semelhantes. "Cada cabeça, uma sentença" .. . Cada geração, uma (ou várias) influência...
Há um debate muito mais rico do que este apresentado, mas isto é só para situar o nosso diálogo. Se as influências marcam uma geração, há também exceções, o que significa que isto não ocorre por um movimento homogêneo e linear. Ainda mais na sociedade atual em que as configurações dos transportes e das comunicações possibilitam contatos, saberes e conhecimentos que ultrapassam a barreira do espaço tempos. Múltiplas influências ocasionam um hibridismo sem fronteiras, limitado pelo acesso (ou falta de acesso) disponível. Temos que ter ressalvas também nestas possíveis mesclas e até que ponto afetam diferentes pessoas e diferentes sociedades.
O treinamento é diferente? A educação também? O que a teoria e a prática podem nos dizer? Há teorias e práticas? Até que ponto concordamos em "bens comuns da humanidade"? Até que ponto compartilhamos sentimentos de "paz", "educação", "segurança", "HUMANIDADE"?
Por que iniciei a questão com o treinamento? Supõe-se que é uma forma de controle? De padronização? Ou é um processo educacional? Uma forma de aprendizado? Aprendizado e educação são diferentes?
São mais questões do que respostas, mas ainda assim é interessante que a discussão seja ampliada, difundida e pensada. O treinamento em si não quer significa um processo bom ou ruim, depende do referencial e da "utilidade" deste treino: treinar e desenvolver a escrita, o raciocínio lógico, o pensamento, a cordialidade pode ser visto como uma coisa boa, agora usar este conhecimento para enganar pessoas, roubar e fraudar instituições, nem tanto. Treinar e fortalecer o corpo para a saúde e o bem-estar são louvados como caminho para uma vida mais equilibrada, longínqua e menos sedentária, agora o mesmo treinamento para uma briga de rua....
O referencial é importante! E quando trazemos a análise para a questão ambiental é fundamental sabermos o que queremos dizer e dizer da forma mais clara e direta possível. Sem banalizar ou criar "sensos comuns" vazios. O treinamento é interligado e conjunto de práticas sociais, culturais educativas ou não, serve para a padronização do comportamento em alguns aspectos e por isso a educação e a conscientização deve ser base de qualquer processo.
Educar é buscar entendimento, compreensão e raciocício próprio, desenvolvido através da reflexão, treinamento, práticas e experiências. O local e o tempo em que ocorrem variam com a situação, também a forma como acontece. Muito da educação, ou melhor do que se fala em Educação, hoje se concentra no seu aspecto formal e institucionalizado (principalmente escolas e seus desdobramentos), mas não podemos esquecer que este é apenas um dos vários aspectos da Educação, não quer dizer que seja o mais importante ou o aspecto definitivo e definidor.
Até que ponto a escola, a faculdade, o templo e as várias instituições influenciam e "definem" uma pessoa? Devemos considerar a situação e o espaço e a forma da sociedade, cultura, economia, religião, família, governos e uma série de fatores que permeiam os indivíduos e refletem nas organizações e processos educacionais.
A conscientização pode facilitar a ação e a mudança de atitudes, pois torna o conhecimento mais amplo e mais próximo das pessoas, aumenta a percepção sobre a realidade e seus problemas, mas também não é o fator definitivo das mudanças. Todos os processos: Educação, treinamento, conscientização, práticas e experiências fazem parte da nossa vida e não podem ser vistas de forma fragmentada, independente ou imutável. A preocupação ambiental é recorrente na história humana, sua intensidade pode variar com o tempo e depende do local, mas não podemos afirmar que deixou de existir em algum momento e que foi o mesmo processo e a mesma intensidade em todos os lugares. A situação atual nos coloca em grande reflexão sobre o futuro da humanidade, cada um relativizando sua importância, mas ainda assim um movimento crescente é visível. Se haverá sucesso em um respeito maior, não só para a proteção e preservação ambiental, mas respeito a questão humana também é ainda um desejo a ser trabalhado.


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Breves comentários sobre o "temível" aquecimento global

O Protocolo de Quioto, começa a ser discutido quase uma década antes de ser formalizado em um acordo em 1997, que propos a redução da emissão de gases do efeito estufa, considerados um dos responsáveis pelo tão temido aquecimento global. O Acordo buscou estimular diversas iniciativas para este propósito: estimular o uso de fontes de energia renováveis, proteção das florestas e matas, consumo consciente, créditos de carbono e outros mecanismos. Há também um cronograma de ação para que os níveis de emissão entre 2008-2012 sejam menores do que os níveis de 1990.
Embora existam inúmeras previsões e estudos sobre o que pode acontecer ou não, dependendo das ações tomadas, nem sempre falam a mesma coisa, o que acaba confundindo a maioria das pessoas que não acompanham o tema e são informadas pelos meios de comunicação que não consegue esclarecer as dúvidas ou aprofundar a discussão. A falta de informação, ou como acontecesse hoje, a falta de interesse e falta de cultura para buscar informações mais confiáveis prejudicam o debate, mesmo que haja "excessos" de informações.
O que é importante e essencial também depende das informações disponíveis e da confiabilidade das fontes, como saber se a situação atual é realmente alarmante? Como saber que devemos nos esforçar mais para evitar uma tragédia no futuro? Em quem ou no que devemos acreditar? Todas estas e muitas outras questões são apresentadas e fazem parte do nosso cotidiano, mas nem sempre as perguntamos. Ocasionalmente aceitamos o que ouvimos e que nos é dito e até mesmo reproduzimos certas informações sem fundamentos ou base.
O mostro hoje conhecido como "aquecimento global" deve ser desmistificado antes de ser combatido e para isso não basta saber que o planeta Terra vai, segundo estudos, aumentar alguns graus Celsius (alguns indicam de 1 a 3 graus) nos próximos 20 a 50 anos sem saber as implicações. Estes dados podem parecer alarmantes ou não dependendo do referencial, o que 1 ou mesmo 3 graus Celsius significam para uma pessoa? E para um animal? E para uma planta? Como afeta o oceano, os ventos? Enfim, a vida de forma geral.
O aquecimento global é um fator natural que foi um dos responsáveis pelo surgimento da vida no planeta, o que preocupa é um aumento "não-natural" e excessivo deste aquecimento e suas implicações. A principal causa disto é a ação humana, embora esta afirmação seja questionada, a ação humana é questionada por ser um dos maiores fatores das mudanças que ocorreram nos últimos séculos, não só no ambiente e na sociedade como nos processos e desenvolvimentos tecnológicos. Por isso a busca de mecanismos para controlar ou reverter impactos negativos dos humanos. Os diversos tratados buscam normatizar as ações humanas e visam a cooperação em torno de um tema comum. Infelizmente ainda são poucos e nem sempre eficientes, pois não contam com mecanismos de governança e de controle e dependem das ações dos que estão envolvidos nestes tratados e dos interesses e preocupações tanto nos governos como cidadãos.


quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Metáforas, mitos e encontros sobre as diversas formas de pensar e os diversos pensamentos ambientais.

Já se perdeu pelo título? Achou o título confuso? Muito a se pensar ou questionar ou apenas um monte de "lorotas"? Talvez, mas vamos a exposição e explicação dos motivos deste texto: Para ser mais fácil compreender vamos começar pelo final - Há diversos pensamentos e diversas formas de pensar as questões e os desafios ambientais, isso é um fato: a própria definição de ambiente e quais são os principais problemas e as ordens e prioridades a serem consideradas varia de pessoa para pessoa. Como então falar sobre o que é certo e qual a solução a ser tomada?
Vamos nos lembrar que as soluções são múltiplas e os caminhos variados, achar que há apenas um modo de agir e uma forma de pensar é cair em um erro drástico, também não significa que muitos dos caminhos e pensamentos não possam levar a lugares próximos.
Um exemplo pode ser mais interessante neste momento. Vamos considerar a questão da poluição: Há muitas variáveis envolvidas, muitos problemas a serem considerados. Quais as causas e consequências da poluição? O que podemos fazer ou qual a melhor forma para evitar ou diminuir este problema? É mesmo um problema? Podemos viver sem ela ou há um ponto em que "precisamos" dela? Inúmeras outras questões e considerações mais específicas podem ser feitas. Mas para nosso propósito fica claro o quão extensa a discussão pode chegar, isso se considerarmos uma definição só e um só tema.
Mas o que as inúmeras propostas e discussões que encontramos nas questões ambientais tem a ver com as metáforas, mitos? Vamos continuar com o tema poluição. Se considerarmos que há mais problemas do que benefícios com o que acontece hoje em dia é comum que se tente fazer algo a respeito e em diversos setores da sociedade. Os mitos e metáforas se ligam a ramos culturais, políticos e acadêmicos, escritores, contadores de história, jornalistas e muitos outros podem ser capazes de criar, narrar, divulgar e debater fábulas, "boatos", lendas, fatos que ao chegar nos ouvidos do grande público ou da massa, ou da sociedade, com queira nos classificar fora de um espaço específico ela pode virar uma teoria da conspiração (afinal quem não ouviu falar de mutações através de despejos químicos e tóxicos em determinada região, geralmente isolada, de um certo país em algum tempo)..
Todas as, ou pelo menos as melhores e mais divulgadas, histórias são aquelas que misturam fatos verídicos com
contos e fábulas com uma moral embutida: um pequeno acaso pode levar o ato de poluir a consequências desastrosas e prejudiciais, criando monstros, epidemias, até o fim do mundo. O número de doenças modernas envolvendo a poluição são inúmeras, afinal são vários os tipos de poluição também, já se ouviu falar em doenças e alergias causadas por ondas de rádio e eletromagnéticas - ainda não há provas, mas os pacientes crescem a cada dia.
Mitos e metáforas são excelentes para ensinar pessoas de qualquer idade, dentro destes contos fabulosos existem verdades e argumentos que podem ser mais contundentes e aceitos que teses e comprovações científicas. Isso ajuda a aceitar e mostrar certas situações de uma forma mais subjetiva e, às vezes, mais "sentimental", necessário para facilitar a discussão. Estas visões que são mostradas, são particulares e tendenciosas, mesmo que sejam muito bem explicadas, defesas contundentes e apaixonadas ainda são visões particulares (de indivíduos ou grupos) que podem ou não ser aceitas pela maioria da sociedade.