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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Somos mais próximos do gado do que roedores. A salvação pela tecnologia...

Segundo pesquisa divulgada recentemente e também publicada hoje pela Folha de S. Paulo no seu caderno ciência (Genoma do gado visa carne melhor - reportagem de Eduardo Geraque e Eduardo Scolese - pg. A12). O genoma do gado foi mapeado e constatado que dos 22 mil genes, 80% são semelhantes ao dos humanos, mais próximo dos que os roedores (que são usados em diversos testes laboratoriais com impacto direto para a criação de drogas e tratamentos para os humanos). A notícia enfatiza, de certa forma, o aspecto inovador da pesquisa e que aponta entre as diversas aplicações deste novo conhecimento como melhoria na carne e leite, até mesmo vacas que emitem menos gás metano, um dos responsáveis pelo efeito estufa. Mas algumas indagações surgem, talvez um tanto superficiais dado que estou me baseando apenas na reportagem e não no estudo em si, como será que estamos presenciando o início do fim da carne de “segunda”? Adeus “stroggobofe”? Outras mais filosófico-conceituais como será que os indianos estavam certos ao adorar a vaca? Servirá de justificativa ‘genético-espiritual’ para os puristas, vegetarianos e outros grupos “não-carnívoros” contra o consumo de carne bovina? Muitas outras questões são colocadas com a divulgação deste estudo que vai além do quesito comercial e tecnológico.
Ainda deve haver um longo caminho até que esta pesquisa se consolide e seja aplicado, embora o pesquisador entrevistado pelo jornal, o veterinário José F. Garcia da Unesp de Araçatuba, tenha afirmado que “ Esses dados são para aplicação imediata”. Temos que considerar que este estudo é resultado de seis anos, ainda há muito para ser analisado, o mapa genético é um primeiro passo. Mas um passo que deve ser visto também com cautela. As questões que apresentei até agora podem até ser vistas com e como deboche, mas não por isso deve ser tirada sua validade nem a importância de se pensá-las.
Não quero tornar este debate um juízo de valores fechado e tirar a validade destes tipos de pesquisas que são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade e até mesmo de uma sociedade mais justa e sustentável. Por que não? A sociedade vem em ritmo e dinamismo acelerado e as mudanças podem estar acontecendo em uma velocidade maior do que pode ser percebido pelos humanos (tese defendida por alguns sociólogos, filósofos e estudiosos nos mais diversos campos).
Há certa perversidade quando separamos conhecimento e a aplicação deste mesmo. A engenhosidade e a mente humana talvez ilimitada e, com certeza, impressionante, não importando o tempo em que se encontra, mas o tempo é fundamental para o desenvolvimento do pensamento humano devido a possibilidade de acumular e desenvolver pensamento, técnicas e tecnologias, memórias, ideias e ideais através de meios além da oralidade e do cérebro (desde a pedra, papel, impressos, gravações de voz e/ou vídeo, hoje a internet, os programas de editoração de texto e uma infinidade de recursos que se tornaram possíveis e se iniciaram com a codificação da comunicação – alfabeto e depois a escrita, um dos marcos para o fim da “pré-história”). Ao longo deste desenvolvimento da memória, está o desenvolvimento da sociedade, das normas, regras e princípios legais e morais que permeiam diversas relações existentes.
Enfim a sociedade do século I não é a mesma que a sociedade de hoje, mesmo que ainda existam resquícios e impactos das civilizações daquela época, e é quase certo que não existam mais seres vivos daquele período. Por mais que existam influências de um período para outro, as mudanças ocorrem não apenas pela mudança constante dos envolvidos, mas pela possibilidade de mudanças no pensamento e no comportamento social, mas essa já é outra discussão.
O impacto e desenvolvimentos das novas tecnologias e técnicas vão existir, pois são produtos e consequências de um tempo específico e uma série de fatores e intenções, o conhecimento (afirmar que sua aplicação e não o conhecimento em si que gera problemas) não pode servir de desculpas para mascaram discussões e atitudes, tão complexas e parciais quanto o próprio conhecimento.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ninguém é mais ambiental que alguém... mas exigir algo exige uma troca?

Há algumas semanas em horários variados vejo uma propaganda, na verdade acho que só vi mesmo em um canal, afirmando que "Ninguém é mais ambientalista que o produtor rural..." não vou reproduzir o resto da fala completa, mas em linhas gerais, acabam criticando a falta de "apoio" e de "incentivo" da produção, que as leis vão acabar parando o Brasil... Esperei um tempo antes de comentar esse diálogo para ver se haveria maiores manifestações da mídia em geral, mas até agora parece que passou despercebido ou foi ignorado, talvez como motivo de risada e nada mais. É interessante que esta propaganda apareça perto do planejamento do Novo Código Florestal Brasileiro e a redefinição de certos limites para a produção e sua localização.
A intenção destas linhas não são criticas ou julgamento, nem louvor a tais iniciativas. Também não cabe entrar em detalhes dos motivos que levaram a tal manifestação, somente suposições no momento, mas sem querer me adiantar o descontentamento é evidente. E, talvez, seja produtivo olhar para esse descontentamento com mais atenção. Sem negar a defesa ambiental - afinal de contas, quantas pessoas seriam "suficientes" para ir contra? - a propaganda nos mostra que há uma certa inquietação com os rumos do debate ambiental no Brasil, talvez antecipando uma tendência de regulamentação, maior fiscalização e rigor no cumprimento que se espera deste país, talvez com medo que se tornem mais rígidas (algo que na verdade nunca foi) e acabe na burocratização que paralisa muitos setores da sociedade.
O Brasil é um país de imensas riquezas em quase todos os aspectos possíveis, ganha também cada vez mais prestígio no cenário internacional. E isso exige maiores responsabilidades, controles, transparência, mostras de que somos capazes. Os olhos do mundo nos veem com mais atenção, como a crise financeira perturbou o andamento deste processo é ainda cedo para saber como o Brasil, ou melhor, a percepção das ações brasileiras tem impacto neste novo cenário. Talvez tenha até acelerado a inserção internacional e nacional, mas se vai ser positivo para o mundo em geral e, especialmente, para o país ainda será descoberto.
A raiz do problema está além da discussão socioambiental, mas esta é uma discussão indispensável para entendermos os vários problemas: fome, desemprego, violência, baixa escolaridade, baixa renda, desigualdade social e tantas outras que se relacionam direta e indiretamente, em escalas e intensidades variadas, com a Sustentabilidade. Isso não se limita a região Latino-americana, mas uma discussão que deve considerar e abraçar o mundo.
Não cabe assim que uma pessoa seja sacrificada para a salvação do resto, nem que os prejuízos sejam pagos por apenas uma parcela da população, principalmente se esta parte é a
que já tem poucos recursos, é marginalizada e sofrida, onde as consequências tem potenciais muito mais devastadores e complicados. Mas se nada for feito, nada muda. Se por achar que não há jeito e não devemos agir, então realmente só por um milagre. Engraçado que o milagre neste caso é aquilo que não vem da ação humana, onde a ação humana em si é um milagre em muitos aspectos: a capacidade imaginativa, criativa, de comprometimentos e adaptabilidade é praticamente ilimitada. Um direcionamento, uma reordenação, um (re)pensamento da sociedade, da educação, da produção, do consumo, do que é governo e de quem e para quem ele serve é um começo que deve ser dinâmico, integrador, interativo, inclusivo, includente, abrangente, aberto, coerente, coeso, constante, humano, humanizado, humanizador, ambiental, sustentável, local, nacional, regional, internacional, mundial, universal. Mas que não deve ficar no campo teórico, epistêmico e inicial, deve ser desenvolvido, internalizado, aprendido e apreendido como parte do cotidiano.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Quando o que é sólido se desmancha? Conceituando Moinhos de Ventos

"Tudo que é sólido se desmancha no ar" Marx (influenciou livro de mesmo título escrito por Marshall Berman, lançado em 1982)
"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" Lavoisier séc. XVIII

O problema que podemos encontramos ao trabalhar o "ideal" e a "ideia" de SUSTENTABILIDADE é o seu alto potencial romântico, romantizador e fantástico de um lado e também cético, pessimista e debochado do outro. São espectros extremos de uma mesma linha, mas não são únicos. Dentro destas variações há diversas intensidades e intenções: ou seja podem existir céticos românticos e pessimistas fantásticos, ou ex-pessimistas e ex-idealistas, o que mostra que cada pessoa tem certas predileções ao longo da vida que são flexíveis, mutáveis de dinâmicas. A importância aqui não é saber em que local do espectro do movimento ambiental você, ou mesmo eu, nos encontramos. É saber primeiramente do que se trata esse movimento.
A defesa da "natureza", do "bioma" do "meio ambiente", do "desenvolvimento sustentável", da "educação ambiental" "conscientização ambiental" "racionalidade ambiental", do "futuro da humanidade", e de muitas outras há diferenças e semelhanças, aproximações e distanciamentos, enfoques em determinadas áreas, saberes e conhecimentos. Tudo isso leva a uma infinidade de conjunturas e conjunções, ainda mais se considerarmos que a predileção e interesse de um indivíduo geralmente é múltipla. Mesmo que em uma área do conhecimento são várias as vertentes possíveis dentro de um tema mais abrangente.
Talvez a dificuldade seja justamente perceber as nuances do debate ambiental em seus vários aspectos dentro do espectro maior do movimento ambiental. Falar, pensar e agir em torno desta temática é importante em suas múltiplas dimensões, assim como interligar com vários outros temas relacionados direta ou indiretamente como a questão do comércio, do consumo, da saúde, dos direitos humanos, da ciência, da política, da cultura, praticamente em todo e qualquer tema há uma vertente possível e passível para discutir a questão ambiental. Não podemos esquecer que o enfoque antropo (humano) neste amplo debate é motivado por razões óbvias ou não? Somos humanos? Nos preocupamos com nossas ações? Interferimos e interagimos com o ambiente? Somos importantes?
Para uma pequena reflexão: você já se imaginou ou pensou como seria sua vida se você não fosse humano? E qual seria a implicação ambiental? Lembremos que embora essa projeção e esse processo imaginário possa ser interessante é muito difícil que você deixe de lado sua consciência, embasamentos e experiências que são humanas o que acaba deturpando um pouco esta reflexão. Mas o interessante é justamente essa busca de outros olhares e do distanciamento, mesmo que imaginário, que este exercício possibilita.
A questão ambiental com seus múltiplos e polifônicos enfoques, ideias, saberes, conhecimentos, história e experiências permeadas pelo "biosocioeconomicopolíticocultural" não deve ser visto como um bicho de sete cabeças ou como moinhos de ventos quixotescos e muito além e distantes de nós. É o oposto, cada um é uma parte deste emaranhado, participamos, influenciamos, interagimos, modificamos e somos modificados ao longo da vida. Deixar de lado só por parecer complicado ou trabalhoso demais não deve servir como justificativa para comportamentos e ações.


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Eu até falo sobre a questão ambiental, mas percebo cada vez mais que sou um péssimo ambientalista.

É normal uma pessoa que preze e se envolva no universo das questões ambientais acabe se tornando um grande defensor das causas "ecológicas" certo? Talvez, mas como podem ver pelo título desta nota pessimista, o autor em questão (eu) não tem contribuido para um mundo melhor. Não larguei o consumo de carne, adoro churrasco, até preciso começar a fazer uma atividade que os quilos extras estão começando a acumular. Não consigo reciclar/reutilizar tudo que uso, nem tento convencer (muito) aqueles que são mais próximos a fazer. Afinal, como posso pedir para fazer uma coisa que nem eu consigo?! Reduzir o consumo é uma das únicas coisas, mas consumo pouco por não ter muito para gastar, utilizo o transporte público por não ter um carro ou moto.
Em contrapartida eu economizo com banho, às vezes passo até uns dias sem (só quando tá frio e quando fico em casa). Não consumo refrigerante - mais por não gostar do que qualquer ideologia. Não jogo lixo no chão. Tento mostrar o quão importante é pensar, refletir e conscientizar para a problemática ambiental, vide este blog que estão lendo. Mas estas são iniciativas mínimas, mas são minhas e embora eu de vez em quando pense em voz alta como agora, sei que preciso aprofundar minhas ações em prol do ambiente, mas não radicalizar ou deixar de fazer o que gosto e de pensar o que penso só para me "adequar" a um "padrão" de 'excelência ambiental', (as aspas são sinais de ironia).
Posso não ser uma grande figura, muito menos um exemplo de ativista, um ecólogo, um conhecedor das mais profundas questões ambientais, mas eu tento, para falar a verdade por enquanto eu mais penso e esses pensamentos são compartilhados, debatidos, negados, difundidos para que outros conheçam e saibam e até possam se identificar com as questões que apresento aqui, que possam discordar do meu pensamento, que possam compartilhar dos pensamentos e temas que acredito serem interessantes e importantes nestes debates. Se agora penso a questão e vejo minhas ações como mínimas em relação ao que poderia estar fazendo, também tenho que reconhecer que é um processo, que posso crescer aos poucos e melhorar sempre. O importante é não desistir ou se desesperar só por achar que minhas ações são insignificantes.
Tem muitas e muitas coisas que não posso evitar e estão fora do meu controle e que ainda não tenho condições de ser a pessoa que constantemente atua em prol da preservação planetária, mas faço o que posso, como posso e do meu jeito.