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domingo, 11 de outubro de 2009

Informações, manipulações, desilusão.

Um velho ditado ou a sabedoria popular tem por trás uma moral, uma visão de mundo, uma história, mas ao longo do tempo perdeu-se o contexto e as maiores referências e se transformou em um dito popular em que continuam a existir uma certa moral, mas agora com roupagem de verdade universal e imutável de tanto serem repetidos.
A história do petróleo nas nossas vidas tem relação com o ditado acima, mas de certa forma invertida: "nem tudo que é ouro, reluz". Sim, o também conhecido ouro negro. Produto primário para milhares de produtos utilizados no nosso cotidiano e sem perceber, não só combustível, mas o plástico, borracha e uma série e outros derivados. A indústria petroquímica vem se desenvolvendo no último século e é o setor estratégico e muitos países e quase todas as sociedades são dependentes desse produto. Claro que a intensidade dessa dependência varia e nem todas as pessoas utilizam produtos a base de petróleo, mas essas são cada vez mais raras.
Isso não significa que não existam também cada vez mais alternativas como os combustíveis e materiais desenvolvidos através de plantas e outros tipos de materiais e também a própria reciclagem. Ainda assim, esses materiais e métodos alternativos são ainda pouco aplicáveis em escala comercial necessárias para substituir o 'ouro negro', são vários os motivos, seja pelo alto custo, pela falta de investimento ou interesses diversos, entre uma série de outros fatores.
Outra questão é o tempo, há mais de um século que o petróleo e seus derivados vem ganhando espaço e dominando as bases industriais. A preocupação ambiental contemporânea tem se expandido há pouco mais de quatro décadas e sofrendo para se estabelecer, nos mais diversos setores. Podemos até mesmo dizer que a questão ambiental ainda não se estabeleceu como prioridade para muitas pessoas, empresas e sociedades e os motivos vão desde a falta de conhecimento e perspectivas até interesses diversos, medo de mudança e perda de status, entre outros.
Ainda temos o problema do discurso, da adequação e aceitação. Só dizer que algo é importante, não quer dizer que se está fazendo algo a respeito. As propagandas e o uso indiscriminado da palavra 'eco' como adjetivação de um produto nem sempre pode corresponder a realidade da sua produção. Isso também é motivado pela falta de uma aceitação e visão única do que é ser Sustentável e ecológico. Não é ruim que haja diversas visões, mas a falta de diálogo e interação entre essas visões é o que preocupa.
Muitas vezes nem mesmo se pode falar em um senso ou base comum entre eles. Como se pode falar em uma sociedade mais justa e sustentável sem uma interação e integração igualitária e participativa? Sem uma solidariedade comum e universal? Sem uma vida digna, plena, livre e decente? Não é a igualdade homogênea, nem impositiva, nem a solidariedade por pena ou hierárquica, ou uma vida sem regras, leis e respeito.
Como foi dito acima sobre a questão de que nem tudo que é ouro reluz, quer dizer justamente a respeito do que é importante e essencial para a sociedade como um todo. Se o petróleo ganhou o status e a importância atualmente para ser considerado como ouro, diz respeito não só a suas propriedades e características, mas também sobre a visão de mundo e interesses que consolidaram essa importância. O próprio ouro pode ser questionado sobre sua importância e valor.
Isso quer dizer que é a importância que torna um tipo de metal ou algo fossilizado é produto de um tempo, de contexto, de seu uso, mas também é indispensável para isso a aceitação do ser humano. Se o ouro tem o status e a importância que tem hoje é por que a maioria de nós aceita que o ouro tenha esse valor e importância. Lembremos para isso a Ilha utópica de Thomas Morus (ou Thomas More) em que quase não se usa dinheiro, ou melhor, quase não há utilidade para ele e que ouro e pedras preciosas são marcas dos escravos e criminosos.

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