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sábado, 9 de agosto de 2008

O Apolítico e o Politicamente Correto e a Sustentabilidade

O que nos motiva a aderir uma causa, um discurso, uma ou várias teorias? Será o mesmo princípio em que baseamos nossas escolhas pessoais e profissionais? Nossos gostos, estilos? Ou existe algo a mais? Devemos considerar que nossas atitudes são reflexos destas e uma série de outras "escolhas"?
Por que tais perguntas se tornam importantes para a questão ambiental e o que o "apolítico" e o "politicamente correto" se relacionam em todo este pensamento?
Há diversas formas de analisar a história ambiental como um movimento histórico, inconstante, falho e incoerente em muitos aspectos, fragmentado, mas também como crítico, dinâmico, adaptativo, politizado e politizante, inventivo, criativo e outros atributos tanto para um lado quanto para o outro. Não podemos negar que o tema ambiental está presente em diversos outros temas: econômicos, sociais, culturais, políticos; além dos que eram considerados mais "ligados": biológicos, físicos, químicos, ecológicos, "naturais" - a natureza (que merece considerações e reflexões maiores, não apenas a visão de florestas e animais "que não sofreram interferência humana) pode ser considerada o exemplo da diversidade e mutação, não apenas pelos seus processos bio-fisio-químicos; mas quanto a visão do próprio ser humano ao longo da história.
E são as mudanças, em especial, a do ser humano (neste caso mais do pensamento, atitudes do que mudanças biofísicas internas) que alteram radicalmente nosso ecossistema, nossos hábitat e nossos relacionamentos. Passamos a ver nosso ambiente como fonte de matéria e riquezas para nosso conforto e desenvolvimento material. Essa forma de ver o mundo foi o que motivaram muitas dos que hoje são consideradas "catástrofes", entre os muitos exemplos possíveis temos o restante da Mata Atlântica do Brasil - onde somente 7% de sua extensão original sobreviveu e na quase toda essa área em parques e reservas, com poucos recursos e com apoio de iniciativas privadas; também temos Chernobyl - cidade Ucraniânia que em 1986 teve um derretimento de um reator nuclear que gerou mortes e doenças não apenas na região, mas para quase toda a Europa; e para citar um dado mais atual a concentração de plásticos nos oceanos que já estão estimados em mais de 40%.
Mas não é só de exemplos negativos que devemos pautar a discussão ambiental, embora o que leva a polêmicas e discussões é justamente a declaração de "fim dos tempos": O aquecimento global como afogamento de grandes partes da Terra - "dilúvios"; secas e doenças aumentando significativamente, principalmente nos trópicos - "pragas"; medos constantes aliados a outros fatores como as guerras - destruição, mortes violentas e chocantes, o fim dos "direitos humanos". Ações que levam a organização da sociedade civil, a cooperação - mundial ou entre vizinhos, a sensibilização da sociedade, das empresas, dos governos. São atitudes que se estabelecem devagar, às vezes com certos graus de desprezo e desconfiança, mas cada vez mais constantes e cada vez mais abrangentes.
Partimos do indivíduo, aquele que atua, interfere e sofre influências de seu espaço, seja local, familiar, profissional que através das diversas experiências é capaz de formar opiniões sobre os mais variados assuntos, nem por isso com menos substâncias que especialistas no assunto; mas talvez por isso nem sempre tão aprofundado. A complexidade da questão ambiental é a complexidade do indivíduo e suas relações diversas, únicas e coletivas.
É praticamente impossível não existir opiniões contrárias e a favor seja qual for o assunto, se for minimamente "entendido". E aí entramos em um problema: o que o leitor entende e o que o autor quer dizer, nem sempre chegam a um acordo. As interpretações que uma frase pode gerar é espantoso, mas esse talvez seja o poder e "charme" das palavras, sua força e intensidade, capaz de expressar 'estilos' e sentimentos inigualáveis: alguns autores se tornam célebres por sua unicidade: embora as palavras existam e sejam usadas diariamente pela maioria da população há alguns que conseguem fazer com que as palavras ganhem vida e se transformem em algo mais que palavras.
Simplificando, até de forma bruta e parcial: o indivíduo é formado a partir de suas interações e experiências adquiridas ao longo da sua vida; as lições que se apreendem destas situações dependem da "intensidade" e do "impacto" que viram marcas, "cicatrizes", e exemplos a serem ensinados, para serem seguidos ou evitados. A atitude e posicionamento dos indivíduos além destes fatores, dependem também do ambiente em que ocorrem, ou seja, podem variar dependendo da pessoa - uma situação que ocorre no ambiente de trabalho e uma situação semelhante no ambiente escolar ou familiar podem levar a reações diferentes, mesmo sendo a mesma pessoa.
O fator apolítico - a idéia ou "mito" de que uma certa atitude não tem influências ou objetivos políticos - é difícil se a idéia de política for a interação entre indivíduos em uma sociedade, em prol de objetivos comuns ou para o bem comum. Pode ser que esteja ligado a atitudes, independente das opiniões e gostos pessoais. Talvez o termo esteja mais ligado a questão e a visão da política como poder, visto como 'corrompedor ou corruptor', 'opressor' e uma série de características depreciativas e, por isso, o afastamento de uns e cobiça de outros. Sobre a questão ambiental: uma atitude e um discurso em prol da sustentabilidade, por exemplo, já é partidário, pois defende um tipo de desenvolvimento e uma certa visão de mundo. Nem por isso há necessariamente essa aproximação e busca pelo poder.
O Politicamente Correto (PC) já tem outro processo, que é a sociabilização, interação e integração, com uma certa dose civilidade; em seu extremo se tornam até tabus sociais e motivos de desprezos e preconceitos velados. O PC visa o tratamento respeitoso e o cuidado com alguns temas: religião, etnia, nacionalidades, partidos políticos, culturas, costumes, gostos musicais, times de futebol; embora os últimos não sejam tão respeitados quanto deveriam (de qualquer uma das partes). Mas certos temas, termos e opiniões são altamente banidos do meio social, principalmente nos âmbitos declarados democráticos - que defendem os direitos humanos, as liberdades e o respeito - uma impressão que o que prevalece é o que concorda a maioria.
Certos termos devem ser banidos do meio social? Ou devem ser banidos de vez? Não é por que ele não é falado que não existe. Mas aí há a ambiguidade: Ao mesmo tempo que é levado a obscuridade, o fato de não ser perpetuado contribui para sua extinção... mas se não for banido da pessoa, se não sair da maioria dos espaços familiares é capaz de ser tão forte quanto se fosse algo comum, mesmo sem uma só palavra pronunciada.
O PC vira uma nuvem cada vez mais densa em determinados pontos que embora seja eficiente para escondê-los não é capaz de fazer o objeto desaparecer. Uma neblina artificial que polui os pensamentos e o discurso, mas que não se tornam algo pleno e efetivo por demandar um gasto de energia por vezes desnecessários para se manter. Como efetivar os discursos e tornar o PC em algo proveitoso serão desafios cada vez maior a questão ambiental, ser ambientalmente correto não deve ser visto como um sacrifício e imposição ligados a um modo PC de ser.

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