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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Comentários sobre enchentes, água e clima

Ontem (6/04/2010), o Rio de Janeiro passou por forte temporal que deixou o Estado em calamidade, diversos mortos, feridos e desaparecidos. Ainda em estado de alerta, várias cidades pararam, principalmente a capital que também tem o nome do Estado.
Para os paulistas e paulistanos, que parecem ter um pouco mais de experiência com esse terrível acontecimento, pois infelizmente assombra, desde novembro do ano passado, com mais intensidade do que nos últimos anos,  fica a solidariedade aos cariocas. Diversos outros Estados do Brasil também passaram por essas tragédias e em diversas outras cidades do mundo vemos acontecer essa catástrofe e suas consequências devastadoras.
Os motivos que levam a situação a tal ponto são inúmeros e os culpados também. Talvez, seja exagero, chamar alguns de culpados, mas com certeza há muitos facilitadores para que essa situação ocorra. Não diria, por exemplo, que esses "dilúvios" ocorram por fatores isolados., nem por culpa divina, que a palavra dilúvio nos remete.
Nem se pode dizer, que é culpa de uma determinada geração ou de um governo ou governante, embora a resposta dada é fundamental para minimizar ou sanar os graves impactos e consequências das enchentes.
O que fica claro é que o processo de urbanização desenfreada é um dos principais fatores para ampliar a gravidade das enchentes. Isso por diversos motivos: ocupação das áreas de várzea, destruição das matas ciliares, impermeabilização do solo com asfaltos, casas e construções diversas, canalização de rios e córregos, concentração populacional, inversão térmica, poluição, criação de represas e comportas, sejam para reservatórios e estações de tratamento, sejam para hidrelétricas, entre outros.
Além disso, há os fatores e causas externas como o aquecimento global, o aumento das temperaturas oceânicas, o degelo polar e outras mudanças que podem ser influenciadas pelas ações humanas.  Embora, cada um desses fatores, já sejam preocupantes em si, o conjunto da obra é mais ainda.
Vamos ao cenário da tragédia: Há um aumento na temperatura dos oceanos, o degelo polar e uma série de outros perigos, que ocorrem naturalmente em períodos variados. O problema é que há uma intensificação desse aumento, que pode estar sendo causada pelo aumento da poluição e emissões de gases de efeito estufa.
Essa intensificação é perigosa, pois levam a um deslocamento maior de água, em forma de vapor, que antes estavam nos oceanos, para a massa continental que habitamos.
Enquanto isso, as cidades que tentam represar e controlar seus rios, marginalizando e encanando, por exemplo, tem cada vez menos formas de absorver a água decorrente das chuvas, pois o solo é cada vez mais impermeável e os sistemas de escoamento e esgotos não são suficientes para dar conta desse volume, cada vez maior. A sujeira e lixos acumulados, também diminuem essa capacidade de escoamento.
Solos mais impermeáveis também são sinônimos para menos vegetação, que absorveriam parte dessa água e também de gás carbônico, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Tentar limitar o trajeto do rio, ou mesmo canalizar ele por completo é um feito que exige cuidado e empreende riscos. Por causa das chuvas, os rios têm pontos naturais de transbordamento, as áreas de várzea, que são sazonais, ou seja, que não ocorrem sempre. O problema é que as construções, como as marginais, são feitas e pensadas em períodos de baixa umidade, em que essas várzeas não eram consideradas, por isso das constantes enchentes em determinados períodos.
Para tentar conter essas cheias, foram criadas então comportas e reservatórios para os períodos de cheias e de maior vazão, consequência de chuvas mais intensas. A questão da impermeabilidade do solo também afeta de forma considerável, pois leva cada vez mais volumes de água para os esgotos e outros canais que desembocam nesses reservatórios ou  diretamente nos rios.
Vamos pensar um pouco, se há mais chuvas em certos períodos, que não são previstas ou esperadas, se há menos absorção das águas pelo solo, árvores e plantas, se, o escoamento dessas águas levam a sistema de esgoto e canalização que vão parar nos rios. Então, o volume de água pode ser muito maior que os esperados e comportados pelos reservatórios e a vazão passa a não ser suficiente para conter o transbordamento da água, ou seja, o tráfego de água é tão intenso que ocasiona enchentes.
Para o paulista e outros moradores de grandes metrópoles, mal planejadas, acostumados a ficar parado no trânsito, a situação é semelhante. Grandes volumes de água, sem espaço suficiente para fluir acabam se acumulando, a diferença de carros para a água é que a água não obedece a lógica dos carros e se amontoa e vaza para qualquer lado, não sendo controlada ou limitada pelo espaço pré-determinado para seu deslocamento. O efeito desse vazamento ou transbordamento é a enchente.
Outra situação que piora com os efeitos de chuvas mais intensas não são apenas enchentes e suas consequências devastadoras, além do perigo de transmissão de doenças. Há também o risco de deslizamentos em áreas que estão habitadas, as chamadas áreas de risco, encostas de morros e voçorocas. As pessoas que vivem nessas regiões são uma das mais afetadas pela intensidade das chuvas, que leva a deslizamentos e destruições, consequência da impermeabilidade do solo e a retirada de vegetações para dar lugar a casas que torna o solo menos resistente a enxurradas e leva a desbarranques, arrastando casas, seus  móveis, moradores e o que estiverem no caminho.
Os efeitos devastadores das chuvas também são sentidos na infra-estrutura da cidade, quedas de postes de luz e rompimento de cabos de energia afetam o fornecimento para as áreas afetas, o difícil acesso também impede o socorro aos feridos e desabrigados. O próprio sistema de esgoto fica prejudicado e pode afetar a disponibilidade de água potável em certas áreas,  dependendo dos estragos.
A resposta que o poder público dá a esses acontecimentos e o próprio tratamento, antes  mesmo da ocorrência de tragédias, é fundamental para minimizar desastres. São muitas questões, entre elas, evitar construções e ocupações em áreas de risco é algo que pode ser feito e evitaria muitas desgraças. Outro ponto é entender e respeitar os cursos, fluxos e vazões dos rios, que podem muito bem ser feito, como o caso de Seul, capital da Coreia do Sul, não é tornar marginais obsoletas, mas torná-las co-habitações para o rio e não limitações a ele. Preparar agentes, como a defesa civil para momentos como esses, equipá-los, treiná-los e mobilizá-los quando necessários, entre outras tantas iniciativas e ações.
A conscientização dos cidadãos também é um ponto importante, afinal, o lixo que se acumula e impede o maior escoamento é, em grande, parte descartado de forma imprópria por muitos. Um simples papel de bala para uns é catástrofe na certa para outros, isso por que não estamos acostumados a pensar de forma coletiva, nem no respeito mútuo. Enquanto é um simples papel de bala para um, imaginem 18 milhões desses papéis jogados na rua e escorrendo para bueiros que certamente serão entupidos. Campanhas e incentivos à reciclagem, mais a melhoria da infra-estrutura existente já seriam um bom começo.

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