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domingo, 6 de julho de 2008

(Re)pensar; (re)fletir; (re)agir: um processo necessário, uma escolha pesoal ou uma bobagem metodológica?

O que torna um texto memorável? Será a capacidade de mudar atitudes, ações e opiniões de grupos ou sociedades? Que seja sensível ao leitor e consiga conectar-se e ser identificado com ele e por ele? Que considera todos os aspectos do assunto abordado e permita expandir o conhecimento, as idéias, conceitos, formas e até regras (ou mesmo criá-las)? Que possa ser declamado e consultado independente do tempo de sua escrita e até mesmo aceita por relevar algumas informações que não "agradem" ao público em geral? Que transforma o autor em lenda e teoria, seja pelas aceitações (incorporação do discurso ou regras)ou polêmicas geradas que são capazes até de tornar seu nome uma conceitualização? Exemplos: darwinismo, lamarkismos, marxismos, cristianismos e tantos outros ismos.

Não há como responder tais questões em termos absolutos e definitivos, mas espero que como muitos antes de mim e muitos que ainda virão, tais questões ajudem em nossas próprias leituras e escritas. Afinal de contas, o que devemos considerar, indagar, acolher e refutar, expandir, adaptar quando estamos lendo? Essa é a base das reflexões deste texto.

Atualmente enfrentamos diversos desafios sobre o "conhecimento". Conhecimento adquirido de forma institucional (escolas, igrejas, universidades, etc); familiar (pais, colegas, amigos, familiares); midiático (internet, televisão, filmes, novelas, etc); societal (governos, culturas, costumes, etc). Todos obviamente com diversos níveis de interações entre eles que são indissociáveis e até questionáveis sobre sua classificação, hierarquia, eficiência e eficácia. O acelerado desenvolvimento técnico-científico-informacional, para usar os termos desenvolvidos pelo geógrafo Milton Santos, no último século tem impactos profundos em todas as áreas não só do conhecimento como sócioespacial-ambiental, cultural, psico/fisio/antropo/lógica, agregando diversos núcleos ao mesmo tempo em que a especificidade e a especialização fizeram escolas e escolas.
Não digo que há algo errado em tais desenvolvimentos e mudanças, isso aliás é o que torna minha expressão, pensamentos e divagações possíveis neste breve espaço. Nem defendo que há apenas coisas boas em tais processos. Como a maioria dos acontecimentos e desenvolvimentos "humanos" existem questionamentos, pontos de vistas, adeptos e contrários das diversas experiências individuais ou coletivas. Isso é possível pela própria diversidade humana (individual, social, cultural, ambiental, temporal,) e pela capacidade de "imortalização" da memória humana através de linguagens e escritas criadas e repassadas ao longo dos séculos. Essa capacidade de armazenamento da memória para além do tempo de vida individual além de poupar uma quantidade de tempo na aprendizagem de tarefas simples, permite a continuidade, aprimoramentos, adaptações, contradições, refutações e desenvolvimento de técnicas e teorias que podem desenvolver, ultrapassar e tornar "obsoleto" as anteriores, mas que com certeza não existiriam sem elas.
É importante que o conhecimento histórico não se perca no meio de todo esse processo, e não apenas a história de como alguma idéia ou produto em si se desenvolveu, devemos considerar também todo o contexto existente, um local, uma época, cultura, linguagens, técnicas e teorias existentes, além de influências, individualidades, tendências e uma série de fatores que contribuem na criação e inspirações humanas. A mudança e a continuidade são então inerentes do "tempo humano", dada a gama de fatores que devemos considerar e que contribuem em nosso cotidiano. Negar e esquecer o passado é uma coisa difícil e complicada que nem sempre traz benefícios; Louvar e cultuar o passado sem considerar as contingências atuais também pode dificultar a vida de muitos.
Soluções do passado podem resolver problemas presentes e modelos e formas de atuação em certa sociedades, culturas e tempos podem ser seguidas por outras sociedades diferentes. Em ambas as situações o sucesso pode vir a ocorrer, mas dificilmente da mesma forma como o "modelo original". Como discutimos anteriormente há uma série de fatores a serem considerados em qualquer ocasião, nosso modelo de desenvolvimento atual (muitos autores dizem ser efeito do processo de globalização e mundialização facilitado pelas tecnologias) não escapa desta lógica. Embora neste caso sejam os diversos problemas do passado que ainda persistem: fome, violências, pobreza, saúde, direitos humanos, meio ambiente, educação, etc. Talvez não sejam os mesmos problemas de séculos passado, mas sim mutações destes.
O termo em si pode não alterar sua raiz, mas provavelmente muito do seu significado e uso se altera refletindo seu contexto. O burguês é um exemplo básico: em um certo momento o burguês, moradores dos burgos (centros urbanos) da Idade Média que sem alternativas se voltam ao comércio para sobreviver. Com sucesso de suas atividades foram alicerces na derrocada da Monarquia e da Igreja como poderes dominantes em diversos reinos europeus - é claro que não foram apenas os burgueses responsáveis por tais mudanças, mas para o exemplo a ser dado acho que será útil tal imagem -buscam "igualar" os direitos e deveres das sociedades. Acumular riquezas, liberdade e a busca por nobreza (status e poder) motivou muitos comerciantes de uma época já não tão remota. Atualmente, em muitos aspectos, a visão do burguês é novamente vista de forma depreciativa, mas sua condição agora é de dominante perverso e desalmado, responsável por todos os males do mundo, sua avidez e ganância épica são criticados e temidos como capazes de destruir o mundo.
Disto podemos afirmar: 1o.) Parece ser uma tendência lutar contra a dominação plena; 2o.) A liberdade tão exaltada e defendida se torna um ponto de interrogação em muitos casos; 3o.) Uma situação ou acontecimento é capaz de mudanças profundas e permanentes, etc. Para nossa reflexão, essas mudanças de significados mostra um aspecto importante das próprias mudanças sofridas pelas sociedades em geral.
Para concluir este texto e demonstrar sua intenção vou retomar a idéia do título que ainda não foi diretamente explicado, ou melhor o uso dos "(re)", esta pequena ligação aos radicais pensar, flexo (fletir), agir modificam significativamente os termos? Simplificando o termo "re" ele tem lugar do "de novo" ou "novo"? A proposta é interessante e busca atrair reflexões, repensar o cotidiano, reagir sobre o que podemos, devemos, queremos. Sem esquecer o respeito, a ética, o conhecimento, a sociedade, cultura, educação, e tudo aquilo que faz parte da humanidade nem sempre humana.

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