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terça-feira, 1 de abril de 2008

Cientificismo, Conscientização e Práticas

Os temas tratados são necessários para entender a questão ambiental de forma mais ampla e complexa. Alguns autores colocam como ponto de partida para reflexão o “patriarcalismo”, ou seja, a noção do homem como ‘chefe de família’, responsável pelo bem-estar de todos. Tal noção substitui o respeito e importância dado às genitoras da vida, as mães sagradas e sábias ao longo do tempo se tornam "submissas e secundárias" na história social. Essa é uma das principais críticas do movimento feminista que contestam a legitimidade do poder exercido por sociedades “machistas” (V. Almino, 1993/2004).
A ciência moderna acumula conhecimentos usados desde a antiguidade grega, melhorados com o avanço de instrumentos e teorias para comprovarem ou negarem as afirmações de teóricos antigos. Mesmo que o átomo seja hoje uma denominação para uma partícula não tão indivisível como se pensava a importância histórica de seu nome parece ser mais forte do que o conhecimento adquirido. Assim como os índios nativos do Brasil foram, à época do descobrimento, confundidos como nativos da Índia, onde os navegadores portugueses achavam que se encontravam. São hoje considerados índios de uma forma “politicamente correta” pela sociedade, pois os viventes na Índia serão vistos como indianos.
A nomenclatura é então grande parte do conhecimento e início de muitas teorias, a palavra tem força, seja para o entendimento mútuo, para efeitos diminutivos e pejorativos ou para expressar intenções profundas e às vezes confusas. O conhecimento não deve, nem pode ser separado da crise ambiental (LEFF, 2003). Não podemos esquecer que a ciência segue a certos propósitos e interesses sejam bio-sócio-políticos, econômicos ou culturais, coletivos, empresariais, individuais. Cada um com suas nuances, seja nos objetivos buscados, na ética e responsabilidade de seus executores.
O processo de desenvolvimento das diversas tecnologias de comunicação permite que informações sejam trocadas de forma praticamente instantâneas de partes distantes do globo. A divulgação de notícias se espalha com recursos cada vez mais acessíveis à população em geral, mesmo assim os noticiários da televisão aberta brasileira conseguem transmitir as mesmas notícias, onde o diferencial maior é a ordem da notícia. Isso nos faz questionar o que ocorre com um país de aproximadamente 184 milhões de habitantes para que emissoras diferentes transmitam as mesmas notícias?
A televisão é o principal veículo de informação e entretenimento da população; a Mídia como um todo se torna cada vez mais uma instituição de poder na sociedade moderna, capaz não só de informar, como formar opiniões e interferir no cotidiano da população.
A reflexão deve ser cotidiana e parte indispensável da atualidade, procurar por informação não deve ser feito sem uma reflexão crítica que o momento exige, não é só necessário uma cultura de informação, mas uma cultura de conscientização de forma cada vez mais dinâmica, participativa e transdisciplinar para além do senso comum (MORIN, 2003; LEFF, 2001/2003; SANTOS, 2003; SORRENTINO, 2002).
As diversas teorias sobre como “solucionar” o “problema ambiental” passam por tais processos descritos acima e variam de afirmações messiânicas com futuros imaginários teóricos de caos e/ou salvação da natureza e da humanidade; grandes movimentações de grupos, organizações e instituições; até práticas pessoais de simples gestão e reflexão sobre o uso e consumo. Esses são alguns exemplos de possíveis ações, mas não podemos esquecer que seja o desenvolvimento de uma teoria ou a gestão de organizações são praticas feitas em sua maioria por seres humanos.
Em outras palavras, todas as grandes estruturas abrigam estruturas menores e quando falamos na organização da sociedade há sempre o envolvimento dos indivíduos neste “sistema”. O indivíduo que pode ser afogado pelas vozes das massas, pelas ações arbitrárias e ditatoriais, pelas mazelas e conseqüências que ocorrem também sem a interferência humana, mas ainda assim indivíduo e por mais estranho que pareça – único. Afinal de contas as experiências, ou melhor, as percepções das experiências que, um ser humano tem ao longo de sua vida basicamente definem algumas premissas desta pessoa: sua visão de mundo, comportamento e atitudes.
Um exemplo acentuado e hipotético: dois irmãos podem compartilhar boa parte, ou a vida inteira juntos, como se estivessem ligados (gêmeos congênitos, talvez “siameses”), seja por viverem juntos e passarem pelas mesmas experiências de tratamento familiar, escolares e cotidianas. Lembramos que isso se trata de um exemplo acentuado, mas mesmo com esses mesmos tratamentos a interpretação de cada um será diferente. Um deles pode achar que está tendo uma atenção diferenciada ou que o outro está sendo privilegiado em uma determinada esfera de relações. Além disso, por mais que se pareçam, suas idéias, raciocínios, interesses e atitudes podem, e o mais provável é que se diferenciem ao longo do tempo: como torcer por um time de futebol, ter mais facilidade em se expressar ou para fazer cálculos, entre outras.
Isso leva a outra questão: é o meio social que nos “formam” como indivíduos? Nossas experiências nos “definem” como pessoas? Há algo realmente que nos define? O que fazemos? O que dizemos? O que pensamos? E por que pensar para além do indivíduo, então?
Essas entre outras são algumas questões que devemos tratar ao longo do tempo e que tem importância fundamental para o debate ambiental.

Referencias Bibliográficas

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ALMINO, João. Naturezas Mortas: A filosofia política do ecologismo. Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 1993.
__________. Naturezas Mortas: A filosofia política do ecologismo. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora; Barléu Edições Ltda, 2004.
ANDERSON, Alison. Media, Culture and the Environment. New York: Routledge, 1997.

BURSZTYN, Marcel (org.). Ciência, Ética e Sustentabilidade: desafios ao novo século, 2ª ed. São Paulo/Brasília: Cortez/UNESCO, 2001.
CARVALHO, Edgar de Assis. Enigmas da Cultura. São Paulo: Cortez, 2003.

FERREIRA, Leila da Costa. Idéias para uma sociologia da questão ambiental – teoria social, sociologia ambiental e interdisciplinaridade. Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente n. 10 p. 77-89, Editora UFPR: Paraná, 2004. Disponível em . Acesso em 21/03/2007.
FLORIANI, Dimas. Conhecimento, Meio Ambiente e Globalização. Curitiba: Juruá, 2004.

LEFF, Enrique (coord.). A Complexidade Ambiental. São Paulo: Cortez, 2003.
_______. Saber Ambiental: Sustentabilidade, Racionalidade, Complexidade, Poder. Petrópolis: Ed. Vozes; México: Pnuma, 2001.
MORIN, Edgar. Educar na Era Planetária: o pensamento complexo como método de aprendizagem no erro e na incerteza humana. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2003.

RIBEIRO, Gustavo Lins. Cultura e Política no Mundo Contemporâneo: Paisagens e passagens. Brasília: Editora UnB, 2000

RIBEIRO, Wagner Costa. A ordem ambiental internacional. São Paulo: Contexto, 2001 a.
_______. A ordem ambiental internacional. 2ª. ed, São Paulo: Contexto, 2005.

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