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terça-feira, 25 de março de 2008

A Questão Sócio-Cultural da Sustentabilidade

“Quando se aborda a questão ambiental é quase unânime a identificação dos seguintes temas e problemas: o uso social dos recursos naturais, a relação sociedade-natureza, a mudança ambiental tanto local como globalmente, desmatamento, extinção de espécies, ruído, ar e outros fenômenos de contaminação ambiental, doenças por exposição tóxica, poluição industrial, a produção de dejetos urbanos, políticas conservacionistas, produtos transgênicos, ameaças a diversidade cultural, hábitos de consumo etc.” (FLORIANI, 2004)

O contato e conhecimento entre diferentes povos, culturas, sociedades, economias, empresas e indivíduos se tornam possíveis de forma mais rápida, barata e dinâmica, possibilitando uma maior organização, difusão e discussão sobre temas e assuntos variados - desde temas essenciais para as relações sociais futuras como os Direitos Humanos; Meio Ambiente; Educação; Pobreza, até trocas de informações, idéias, opiniões e experiências individuais (CASTELLS, 2003; RIBEIRO, G. L. 2000). Não significa que tal informação seja sinônimo de conhecimento ou saber, para isso é necessário que exista uma cultura para a informação que não se limite ao senso comum ou superficialismo (SANTOS, 2003).
O poder e a proporção da informação, principalmente com a popularização do acesso aos meios de comunicação e transportes, principalmente pelo desenvolvimento tecnológico após a Segunda Revolução Industrial facilitam a mobilidade de pessoas e objetos e difusão de informação, possibilitando cada vez mais a integração ‘transnacional’ de diversas regiões, diferentes culturas e situações sócio-econômicas. (CASTELLS, 2003/2006; TAYLOR, 2002; RIBEIRO, G. L. 2000; RAMONET, 1999). Desenvolvendo, não só a atuação das OIs - que de certa forma geram sub-culturas próprias e até mesmo processos de atuação e estudos diferenciados, como a aceitação, parcerias e participações de ONGs, Empresas, Movimentos Sociais e outros tipos de manifestações no Sistema Internacional (DEVOHE, 1998; HERZ, HOFFMAN, 2004; SEITENFUS, 2004). O dinamismo do Sistema Internacional torna as relações sócio-culturais e econômicas e políticas produtos de seu tempo, pois são situações e momentos praticamente únicos, implicam uma série de fatores biológicos, físicos, psicológicos, cognitivos, históricos, culturais, tecnológicos entre outros (CARVALHO, E. A., 2003; MORIN, 2003; LOUREIRO, 2002). Não significa que não podemos aprender com situações anteriores, a percepção da interação homem-natureza é um exemplo:

Se é verdadeira a afirmação de que a espécie humana estendeu sua ação a todos os espaços, é falso considerar que esta conseguiu delinear o funcionamento da natureza, inclusive no que se refere à biologia humana. Como mencionamos, a natureza possui uma dinâmica própria, muito bem definida no âmbito da ciência da Ecologia. É com essa e nessa que interagimos (positivamente ou não), transformando a ambos (LOUREIRO, 2002)

O Ambientalismo[1], segundo Gustavo Lins Ribeiro (2000), é visto como uma forma contemporânea de movimento social,

[...] constantemente articulando burocracias centrais (uma sede nacional ou internacional), conhecimento científico de diferentes campos (ecologia, antropologia, biologia, engenharia agronômica e civil, física, etc), redes de informação (redes de computadores, mailing list, nacionais e internacionais), lobby intenso de instituições políticas e econômicas, iniciativas legais, criação de eventos na mídia eletrônica, recrutamento de superstars e demonstrações massivas e simultâneas em vários países como forma de enfrentar a internacionalização da questão ambiental.
Do ponto de vista ideológico, o ambientalismo internacional não é um movimento tão contemporâneo e alguma de suas versões pode ser consideradas conservadoras (RIBEIRO, G. L., 2000)

A cultura possibilita entender certos comportamentos e atitudes quando se aborda a questão ambiental, mesmo que nem sempre os justifique desde a abordagem por estruturas sociais como escolas, faculdades como no ambiente de trabalho e em relações familiares e afetivas que servem de base e modelo para a ‘sociabilização’ dos indivíduos (KELLNER, 2001). As relações sociais criam diversos tipos de vínculos e conseqüentemente pode gerar estruturas que regulam os princípios e normas destas relações criam regimes e expectativas de convergências (KRASNER, 1982; BARROS-PLATIAU, VARELLA, SCHLEICHER, 2004). A participação de toda a sociedade, expressa pela participação das ONG’s, também ganha destaque na nossa discussão, ainda mais quando serve como suporte e parcerias para grande parte dos projetos promovidos pelos Estados e Organizações Internacionais não só na relação com a questão ambiental.
A discussão ambiental da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano (CNUMAH) em Estocolmo em 1972 contou com a presença do Brasil e diversos países que defenderam, em sua maioria, os “interesses nacionais” não conseguindo estabelecer os objetivos do Relatório do Clube de Roma ou mesmo estabelecer uma Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Onuma) no Sistema Internacional com uma preocupação com a “segurança ambiental” tão expoente (BARROS-PLATIAU, VARELLA, SCHLEICHER, 2004; RIBEIRO, W. C., 2001 a/ 2001b/ 2005).
A interação cada vez maior entre os diferentes povos cria então uma nova dinâmica entre conhecimento, ação e poderes. O leque de possibilidades se expande para a discussão ambiental, assim como as opiniões se multiplicam. Entender os interesses e dimensões (bio-sócio-políticos-culturais-pessoais-econômico-histórico) entre outros fatores que formam e fazem parte de tais opiniões é crucial para o entendimento da “ambientalidade internacional”.

Notas
[1] “[...] o ambientalismo, tanto em sua versão fundamentalistas mais conservadoras (como conservadorismo) quanto nas versões que negociam com a idéia de desenvolvimento, tenham o futuro como um elemento central da sua arquitetura interpretativa” (RIBEIRO,G. L., 2000)

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