Home/ Início

sábado, 29 de novembro de 2008

O consumo pode ser sustentável e ecológico, mas...

Quando se trata da questão do consumo diretamente ligado com a Sustentabilidade devemos tomar cuidado com certas afirmações e discursos. Isso quer dizer que o consumo pode ser visto como uma preocupação, mas não de forma tão simples. Explicações que afirmam que o consumo é um mal que deve ser combatido de todas as formas é meio estranho, afinal de contas precisamos consumir alimentos, água, roupas, moradia, transporte, ar e uma séria de coisas que fazem parte da própria existência humana e da sociedade. O problema se encontra no exagero e nos excessos em contraste com as necessidades básicas, claro que o ser humano não necessita de coisas somente materiais e a sobrevivência não é o único objetivo; consumimos arte, lazer, cultura, educação (de certa forma) e diversas outras coisas que fazem parte da vida. Nas palavras de Edgar Morin: "O homem é 100% biológico e 100% cultural". Integrado e interagindo com e em sociedade, pessoas, lugares, locais, crenças, culturas, etc.
Não vivemos apenas por viver, nem comemos apenas para nos alimentarmos ou bebemos para saciar uma necessidade biológica, necessitamos que estas experiências tenham ligações profundas, e em alguns casos profanas, com outras sensações, com outros significados. Para uns o próprio consumo é uma arte, um ideal a ser buscado, para compensar frustrações ou por uma série de outros motivos pessoais ou personalizados. É uma questão cultural, social, política econômica, psicológica, biológica etc., e principalmente dificilmente identificada se for avaliada de forma fragmentada e se ignorar a complexidade dos fatores envolvidos.
Como podemos agir ou mesmo opinar sobre o "dilema" do consumo se as implicações deste consumo estão ligadas a tantas outras situações que nos impedem de identificar a razão pela qual ocorre? Podemos dizer que consumir em excesso e exageradamente é algo prejudicial, mas temos que analisar os parâmetros e as perspectivas. Embora contraditório é compreensível que haja apoio a um maior gasto governamental e em políticas públicas que melhorem a qualidade de vida, saúde, educação e uma série de outros "bens" produzidos por governos e pela sociedade como um todo. Há diversos estudos que dizem que estamos consumindo mais do que o limite aceitável de recuperação e que tal depredação gera impactos negativos.
O consumo ajuda a piorar a situação, se o ideal ou o "padrão" a ser seguido para melhorar a qualidade de vida for o nível de consumo de países desenvolvidos. Existem mais de 6 bilhões de pessoas vivendo no mundo o dobro se comparado a dados da década de 1960, aliado a busca de desenvolvimento, a obsolência e descartabilidade dos produtos consumidos há muito com o que se preocupar. Mas há esperanças para uma melhor condição de vida que não envolva um consumo desenfreado - que pode esgotar a própria vida na Terra -dentro das perspectivas de desenvolvimento, em diversos setores da sociedade, práticas e processos cotidianos.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Luxo ao Lixo

Há uma série de estudos que calculam o valor do "lixo", isso mesmo, aqueles objetos, restos e uma série de dejetos e "sujeiras" produzidas ao longo do dia por nós e que não podem, em alguns casos nem devem, ser armazenados em nossas casas seja por questões de higiene ou, como é mais comum hoje em dia, prática. E esse cálculo está na base de bilhões de reais, um desperdício considerável... Mas vamos imaginar o motivo deste cálculo ao invés de suas contas específicas que é a minha preocupação neste texto.
Primeiro devemos lembrar que a dinâmica das cidades leva a um aumento na produção de dejetos e ao aumento do desperdício, mesmo que indiretamente. Isso por que há cada vez mais cidadãos co-habitanto em rotinas que não permitem muito espaço para se pensar no cotidiano. A rotina em muitos casos é comprar comida pronta e embalada, pré-fabricada, que basta adicionar água quente ou ir a uma lanchonete mais próxima. Não digo que seja a rotina de todas as pessoas do mundo, mas é corriqueiro nas cidades, com um aumento expressivo nos finais-de-semana. É compreensível que a pessoa cansada pelo estresse da semana não queira cozinhar nos seus dias de folga, mesmo que não cozinhe durante o resto da semana.
O fato de 2008 ser lembrado como o ano em que a população urbana da América Latina e Caribe ultrapassou a população rural é um outro dado a ser levado em conta neste processo, também não significa melhores condições de vida ou melhores oportunidades a esses novos 'migrantes', mas um importante fato que deve ser analisado com mais foco em outro artigo, apenas lembrar que muitos dos que chegam sem perspectiva ou apoio acabam enfrentando dificuldades e o que é considerado por muitos como "lixo" é talvez o único modo de sobrevivência da maioria. Isso sempre me remete ao documentário, curta-metragem de 1989 - "Ilha das Flores", muito fácil de achar em diversos sites e muito comentado por seu humor e exposição crítica. Mostrando como muitos vivem do lixo, sendo os porcos mais cuidados que seres humanos.
Ainda existe a questão da reciclagem, reutilização, repensamento envolvido neste tema. Se há um maior consumo não só de alimentos como produtos e embalagens eles podem ser reaproveitados ou reciclados, mas isso também depende da população e de governos que investem em políticas e incentivos a estas ações. Repensar também o consumo desenfreado e a necessidade envolvida, se é para alimentar ou satisfazer-se pelo produto ou simplesmente pelo ato de comprar? Você precisa mesmo disto ou daquilo ou foi levado a acreditar nisso? Não quer dizer que você deva viver longe de tudo e de todas as coisas, mas devemos admitir que há como evitar exageros, mesmo que nem sempre.
O que eu quero dizer é que há uma preocupação com o lixo, principalmente como iremos armazenar os restos e resíduos produzidos daqui a alguns anos na cidade? Teremos que exportar como foi o caso de Nápoles, cidade italiana neste ano mesmo? Pagar para alguém ficar com o lixo dos outros? Sendo que a reciclagem e o reaproveitamento podem ser de mais de 70% dos materiais jogados fora e a reutilização da parcela orgânica para adubos e combustível. Sim há um rico mercado inexplorado que é o lixo, mas não é tão simples assim. Envolve políticas e incentivos públicos, uma infra-estrutura e uma educação da população, afinal de contas para que ela vai se preocupar em jogar uma embalagem, lata ou garrafa, mesmo um papel de bala em uma lixeira que está a menos de dois metros se há o chão para isso?
E eis nossa última questão de hoje: a própria sociedade. Sim, eu, você, nossos familiares, amigos e conhecidos. Não deveria ser uma preocupação de todos? Vamos pensar no caminho dos dejetos que você descarta dia sim, dia não e o lixeiro recolhe. Ele não some miraculosamente, tem que ir para algum lugar, geralmente lixões e aterros, onde estão esperando para serem geralmente enterrados, queimados ou simplesmente largados no terreno. O material que poderia ter sido reaproveitado vai acabar se decompondo com outros materiais e sendo inutilizado virando o velho e mal-cheiroso conhecido "chorume", altamente poluente e que acaba penetrando em lençóis freáticos indo parar até nos rios e na água que bebemos e usamos na agricultura e no dia-a-dia; além desse chorume, o ato de jogar dejetos na rua ao invés de locais apropriados que acabam parando em bueiros e esgotos - entupindo e possivelmente causando enchente ou indo parar nos rios para a água que bebemos e usamos na agricultura e no dia-a-dia - aumentam, em ambos os casos, os custos do governo na limpeza e tratamento de água e esgoto que conseqüentemente aumenta o custo da água e dos impostos para toda a população.
Ao invés de lucrarmos com o lixo, pagamos mais ainda pela falta de planejamento e reciclagem. O número de aterros é limitado e não há mais para onde crescer se o ritmo continuar, o que poderia ser aproveitado acaba sendo inutilizado, não é que perdemos bilhões por causa do lixo, pelo menos não diretamente, mas deixamos de economizar e lucrar estes bilhões e não podemos esquecer que os recursos naturais que possuímos são limitados e finitos, se tudo virar chorume o que faremos?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Os novos ares e a sociedade perante a "crise" mundial.

São diversas as implicações possíveis que estes últimos meses anunciam. As preocupações com o futuro da economia mundial, ou melhor, dos mercados financeiros levam a especulações sobre como e quando a situação será estabilizada e os temores se vão. Há inclusive preocupações sobre a questão ambiental. A ex-Ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina da Silva, em tom pessimista diz que a situação de crise afetará ações ambientais, embora o atual Ministro tenha declarado que as ações ainda não foram e não serão afetadas. Espero que não. Mas
mesmo que não sejam afetados, a questão deve ser vista com cuidado e reais preocupações, pois em momentos como esse que nos encontramos, em que a "crise" afeta direta e indiretamente milhares de pessoas ao redor do mundo, tendem a tornar a questão ambiental e muitas outras que já não são consideradas "essenciais" se tornam secundárias, terciárias etc.
O que preocupa é como as ações
, ou sua falta, em um setor da sociedade afeta o todo, e vice-versa. Parece uma coisa muito complicada e realmente é, não existe nenhuma teoria, nenhuma equação nenhuma política que consiga prever 100% dos resultados, principalmente quando envolvemos o fator humano na equação. Devemos lembrar que para toda ação existem diversas conseqüências, algumas delas imprevisíveis, que gerarão outros impactos e outras ações sucessivamente. Não significa que devemos optar, então, pela inação, pois também geram conseqüências. Em outras palavras, imortalizadas por um cantor brasileiro: "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come".
Quais as dimensões reais desta crise financeira que iniciou-se nos EUA e que assolou as bolsas financeira do mundo e diversas empresas? Quem foram os mais prejudicados? Quem ainda será afetado?
Existem até mesmo pessoas que lucraram, e muito, com a crise, mas sempre existem "mercadores da morte" não importando muito a circunstância. Não que seja este o caso... O que devemos considerar e que nos preocupa é se o 'modelo' e o 'sistema' mundial foi afetado. Como fica a questão da sustentabilidade no turbilhão? Enquanto milhares de pessoas estão desempregadas, sem-teto, sem apoio ou perspectiva ao redor, e sobre o mundo há uma preocupação de que os esforços para estruturar uma sociedade mais justa e sustentável sejam menores. Mas estas situações e diversas outras piores eram e são encontradas muito antes da crise atual e muito antes das diversas crises dos séculos passados.
Não existe fórmulas perfeitas e previsíveis para resolver os problemas existentes ou que virão, mas há escolhas que visam o bem coletivo e outras que privilegiam indivíduos ou grupos. Como as identificamos depende do tempo, do contexto, da sociedade e de uma série de fatores e, principalmente, quais as perspectivas estão baseadas. Se você acha que o problema do aumento da violência e assalto de uma determinada região é o aumento da concentração de criminosos você pode acreditar que aumentar o policiamento e o número de presídios seja a ação mais correta a se tomar. Mas se você considera que essa situação, que está relacionada com o aumento da população em geral, da má distribuição de renda, desemprego, baixos níveis de saúde e educação, uma falta de planejamento urbano, familiar as ações podem ser diferentes e variadas.
Os atos mais hediondos são justificados para o bem de alguma causa, indivíduo, grupo, nação ou país. A ética é maleável e contextual, por isso perigosa nos usos e abusos,convencer os outros do que é certo e estar certo são coisas diferentes - o que afinal é o "certo"? Muita coisa do que fazemos no dia-a-dia passa despercebido como algo 'natural', 'cotidiano' e até 'sem importância', mas será mesmo? Pensar nos nossos próprios atos é um exercício necessário, que pode nos ajudar a entender melhor o mundo