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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Luxo ao Lixo

Há uma série de estudos que calculam o valor do "lixo", isso mesmo, aqueles objetos, restos e uma série de dejetos e "sujeiras" produzidas ao longo do dia por nós e que não podem, em alguns casos nem devem, ser armazenados em nossas casas seja por questões de higiene ou, como é mais comum hoje em dia, prática. E esse cálculo está na base de bilhões de reais, um desperdício considerável... Mas vamos imaginar o motivo deste cálculo ao invés de suas contas específicas que é a minha preocupação neste texto.
Primeiro devemos lembrar que a dinâmica das cidades leva a um aumento na produção de dejetos e ao aumento do desperdício, mesmo que indiretamente. Isso por que há cada vez mais cidadãos co-habitanto em rotinas que não permitem muito espaço para se pensar no cotidiano. A rotina em muitos casos é comprar comida pronta e embalada, pré-fabricada, que basta adicionar água quente ou ir a uma lanchonete mais próxima. Não digo que seja a rotina de todas as pessoas do mundo, mas é corriqueiro nas cidades, com um aumento expressivo nos finais-de-semana. É compreensível que a pessoa cansada pelo estresse da semana não queira cozinhar nos seus dias de folga, mesmo que não cozinhe durante o resto da semana.
O fato de 2008 ser lembrado como o ano em que a população urbana da América Latina e Caribe ultrapassou a população rural é um outro dado a ser levado em conta neste processo, também não significa melhores condições de vida ou melhores oportunidades a esses novos 'migrantes', mas um importante fato que deve ser analisado com mais foco em outro artigo, apenas lembrar que muitos dos que chegam sem perspectiva ou apoio acabam enfrentando dificuldades e o que é considerado por muitos como "lixo" é talvez o único modo de sobrevivência da maioria. Isso sempre me remete ao documentário, curta-metragem de 1989 - "Ilha das Flores", muito fácil de achar em diversos sites e muito comentado por seu humor e exposição crítica. Mostrando como muitos vivem do lixo, sendo os porcos mais cuidados que seres humanos.
Ainda existe a questão da reciclagem, reutilização, repensamento envolvido neste tema. Se há um maior consumo não só de alimentos como produtos e embalagens eles podem ser reaproveitados ou reciclados, mas isso também depende da população e de governos que investem em políticas e incentivos a estas ações. Repensar também o consumo desenfreado e a necessidade envolvida, se é para alimentar ou satisfazer-se pelo produto ou simplesmente pelo ato de comprar? Você precisa mesmo disto ou daquilo ou foi levado a acreditar nisso? Não quer dizer que você deva viver longe de tudo e de todas as coisas, mas devemos admitir que há como evitar exageros, mesmo que nem sempre.
O que eu quero dizer é que há uma preocupação com o lixo, principalmente como iremos armazenar os restos e resíduos produzidos daqui a alguns anos na cidade? Teremos que exportar como foi o caso de Nápoles, cidade italiana neste ano mesmo? Pagar para alguém ficar com o lixo dos outros? Sendo que a reciclagem e o reaproveitamento podem ser de mais de 70% dos materiais jogados fora e a reutilização da parcela orgânica para adubos e combustível. Sim há um rico mercado inexplorado que é o lixo, mas não é tão simples assim. Envolve políticas e incentivos públicos, uma infra-estrutura e uma educação da população, afinal de contas para que ela vai se preocupar em jogar uma embalagem, lata ou garrafa, mesmo um papel de bala em uma lixeira que está a menos de dois metros se há o chão para isso?
E eis nossa última questão de hoje: a própria sociedade. Sim, eu, você, nossos familiares, amigos e conhecidos. Não deveria ser uma preocupação de todos? Vamos pensar no caminho dos dejetos que você descarta dia sim, dia não e o lixeiro recolhe. Ele não some miraculosamente, tem que ir para algum lugar, geralmente lixões e aterros, onde estão esperando para serem geralmente enterrados, queimados ou simplesmente largados no terreno. O material que poderia ter sido reaproveitado vai acabar se decompondo com outros materiais e sendo inutilizado virando o velho e mal-cheiroso conhecido "chorume", altamente poluente e que acaba penetrando em lençóis freáticos indo parar até nos rios e na água que bebemos e usamos na agricultura e no dia-a-dia; além desse chorume, o ato de jogar dejetos na rua ao invés de locais apropriados que acabam parando em bueiros e esgotos - entupindo e possivelmente causando enchente ou indo parar nos rios para a água que bebemos e usamos na agricultura e no dia-a-dia - aumentam, em ambos os casos, os custos do governo na limpeza e tratamento de água e esgoto que conseqüentemente aumenta o custo da água e dos impostos para toda a população.
Ao invés de lucrarmos com o lixo, pagamos mais ainda pela falta de planejamento e reciclagem. O número de aterros é limitado e não há mais para onde crescer se o ritmo continuar, o que poderia ser aproveitado acaba sendo inutilizado, não é que perdemos bilhões por causa do lixo, pelo menos não diretamente, mas deixamos de economizar e lucrar estes bilhões e não podemos esquecer que os recursos naturais que possuímos são limitados e finitos, se tudo virar chorume o que faremos?

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