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sábado, 18 de setembro de 2010

The Story of Cosmetics (2010)

Conferência Internacional da Rede WATERLAT

Conferência Internacional da Rede WATERLAT

 

“Tensão entre justiça ambiental e justiça social na América Latina: o caso da gestão da água”

 

Memorial da América Latina
São Paulo, 25-27 de outubro de 2010


A conferência é uma realização da rede WATERLAT. O evento  é organizado pela Escola de Geografía, Ciência Política e Sociología, Universidad de Newcastle, o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e o Centro de Estudos Brasileiros para América Latina da Fundação Memorial, com apoio da Cátedra UNESCO Memorial da América Latina, sob a responsabilidade da Comissão Organizadora.
O encontro terá lugar nas instalações do Memorial da América Latina, em São Paulo. A Comissão Científica da Conferência está a cargo do monitoramento da qualidade do programa do evento em geral.
A Conferência está organizada em torno a três temas centrais que estruturam as atividades de cada dia do evento (Temas 1 a 3 da estrutura). Estos temas estão intimamente ligados as Prioridades de Pesquisa de WATERLAT. Além disso, foram identificados três temáticas transversais que se articulam aos temas centrais:

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25 DE OUTUBRO
26 DE OUTUBRO
27 DE OUTUBRO
TEMA 1
A tensão entre justiça social e justiça ambiental na gestão da água
TEMA 2
Conflitos ecológicos distributivos relacionados à água
TEMA 3
Confrontando a vulnerabilidade e indefensabilidade social relacionadas às ameaças hídricas
TEMAS TRANSVERSAIS
i. Geopolítica da água, gestão de águas transfronteiriças
ii. Grandes obras de infraestrutura hídrica
iii. Riscos, ameaças hídricas e vulnerabilidade

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Modalidade de Inscrição e Pagamento:

O valor da inscrição é R$ 150,00 para professores e profissionais e de R$ 75,00 para estudantes. O pagamento deverá ser feito por meio de boleto bancário ou por cartão de crédito. Por favor, complete o pagamento da inscrição aqui.
Enviar consultas por correio eletrônico para WATERLAT.
Todas as informações acima foram retiradas de:  http://www.waterlat.org/pt/Chamada.html

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A imaginação é limitada apenas por aquele que imagina

Imagine uma fila qualquer, enorme, em um dia quente e em um lugar abafado e mal-cheiroso, em que um sujeito está sendo enxotado dela, simplesmente por ceder seu lugar a um senhor idoso e com claros problemas respiratórios e nas pernas. O sujeito ainda por cima é expulso do local por seguranças carrancudos que por pouco não espancam o pobre samaritano.
Isso pode parecer um absurdo para muitas pessoas, para mim seria deprimente e chocante. Mas, aqui vai a pergunta que não quer calar: Quantas pessoas seriam capazes de fazer algo a respeito? Quantos teriam coragem para se manifestar e impedir que esse absurdo não seja comum e nem cotidiano? Ou será que a maioria aceitaria passivamente ou, no máximo, resmungaria pelo canto da boca e continuaria com o que está fazendo?
Confesso, provavelmente não me manifestaria, se não fosse eu o cara sendo expulso, e mesmo que fosse não sei como reagiria. Talvez nos dois casos seria indiferença a primeira reação. Talvez, xingar muito as pessoas, não pessoalmente, com medo de ser espancado ou de levar um tiro por bobeira. Talvez, anonimamente em um desses sites e blogs quaisquer. Quem sabe até criar uma identidade secreta em um mundo virtual, e lá ser o rei supremo e soberano, o valentão, o cruel, o sanguinário ou qualquer outra coisa que não sou na verdade.
As reações das pessoas podem variar e fazer o exercício de se colocar no lugar dos vários personagens pode dar uma visão mais ampla do que sendo simples espectador: E se você fosse a pessoa expulsa? Se fosse alguém na fila naquele momento? Se fosse você quem tirasse o sujeito que cedeu o lugar da fila? Se fosse o idoso? Se fosse um dos seguranças? Se fosse o dono do estabelecimento? Se fosse a pessoa que reclamou para os seguranças? Enfim, diversas possibilidades, perspectivas, visões e ações em uma situação qualquer.
Tudo torna eventos aparentemente simples em algo complexo. A percepção muda com o tempo, a atitude também, o aprendizado e a experiência são fundamentais. Por exemplo, se todos começassem a andar com uma luva branca padrão, em apenas uma das mãos, sem motivo algum inicialmente. Quanto tempo até alguém buscar uma explicação e dar algum sentido para essa atitude desconexa? Outras questões como: Será que todos usariam a luva na mesma mão? E quanto tempo para as próprias pessoas usando a luva se convencerem de que há um bom motivo para o uso dessa luva? Seria uma mesma explicação para todos os usuários? Quanto tempo levaria para surgir luvas diferentes, nos modelos, materiais formatos, cores e personalizações? E até essa prática ser abandonada?
Tudo isso depende de uma série de outros fatores que podem ser imaginados, como quem impôs essa luva para começo de conversa? (não fui eu); quem acatou sofreu algum tipo de pressões, coerção ou coação? Qual a posição do governo, das empresas e dos movimentos sociais? Isso foi uma política pública? Uma medida cautelar ou preventiva? Um tipo de identificação? Costume? Moda? Enfim, questionamentos que vão longe...
Isso sempre me lembra de alguns poemas (Um breve parêntese antes: palavras são fantásticas e poderosas, podem estimular, informar, denegrir, irritar, apaixonar, enojar, envergonhar e tantas outras reações e o poema em poucas palavras reunidas podem intensificar dada a sonoridade, a musicalidade, a rima e o sentimento, por isso é tão marcante, mesmo que nem sempre possamos lembrar de tudo, ainda podem ser marcantes).

Um é o poema de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa):

Poema em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


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Os outros são do Carlos Drummond de Andrade:

Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue,
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
preferiam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
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O Homem; As Viagens

O homem, bicho da terra tão pequeno
Chateia-se na terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a lua
Desce cauteloso na lua
Pisa na lua
Planta bandeirola na lua
Experimenta a lua
Coloniza a lua
Civiliza a lua
Humaniza a lua.
Lua humanizada: tão igual à terra.
O homem chateia-se na lua.
Vamos para marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em marte
Pisa em marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus.
O homem põe o pé em vênus,
Vê o visto — é isto?
Idem
Idem
Idem.
O homem funde a cuca se não for a júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira terra-a-terra.
O homem chega ao sol ou dá uma volta
Só para tever?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o sol, falso touro
Espanhol domado.
Restam outros sistemas fora
Do solar a col-
Onizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar
Colonizar
Civilizar
Humanizar
O homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria
De con-viver
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