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sábado, 10 de abril de 2010

Conheça o Adopt a Negotiatior

Acompanhe e saiba como anda a reunião preliminar em  Bonn (Bonn Climate Talks) de 9 a 11 de abril,  e espero que realmente ajude para as negociações da Conferência das Partes COP-16, sobre um acordo climático decente que vai acontecer no México, no fim do ano.
A primeira grande reunião após o fracasso que foi Copenhague no ano passado.
Se você quer informações de como andam a discussão e as negociações sobre as mudanças climáticas e quer uma visão da sociedade civil, não deixe de acompanhar o projeto Adopt a Negotiator, da Campanha Global para Ação Climática (http://tcktcktck.org). Assim, você pode saber mais como andam os climas de negociação por pessoas que estão lá e acompanham os negociadores. Já que os negociadores geralmente não tem muito tempo para divulgar para a população em geral e a mídia não faz uma cobertura tão aprofundada. Fica a dica:

E veja quem está tentando acompanhar a delegação do Brasil de perto:

As páginas são na maioria em inglês, mas a responsável pelo Brasil posta em português, o que é excelente!

Se você quer saber mais sobre as negociacões sobre a mudança climática no âmbito da ONU, veja o site da United Nations Framework Convention on Climate Change - UNFCCC, em inglês, espanhol ou francês. Para quem não sabe é a partir dessa Conferência que foi responsável entre outros projetos pelo Protocolo de Kioto e que está se esforçando por negociar um acordo pós-Kioto.
Não deixem de acompanhar!

Estamos preparados para a “Revolução Sustentável”?

Primeiramente, antes de criar algum tipo de desconforto, mas que, na verdade, foi a intenção ao usar o termo revolução, as aspas visam minimizar esse impacto, mas para esclarecer qualquer dúvida posterior. Revolução tem uma conotação e está impregnada a ideia de violência, imposição e no fim das contas um ar de fracasso. Isso por que as grandes revoluções do passado, embora com certos benefícios, em alguns pontos, deixaram marcas e traumas para a história humana.

O dicionário da língua portuguesa on-line, Michaelis, explica que a palavra: 

Revolução (re.vo.lu.ção) sf (lat revolutione) 1 Ato ou efeito de revolver (o que estava sereno). 2 Ação ou efeito de revolucionar-se; revolta, sublevação. 3 Movimento súbito e generalizado, de caráter social e político, por meio do qual uma grande parte do povo procura conquistar, pela força, o governo do país, a fim de dar-lhe outra direção. 4 Mudança completa; reforma, transformação. 5 Mudança violenta nas instituições políticas de uma nação. 6 Modificação em qualquer ramo do pensamento humano, abandonando ideias, sistemas e métodos tradicionais para adotar novas técnicas: Revolução literária, artística, industrial. 7 Sistema de opiniões hostis ao passado e pelas quais se procura uma nova ordem de coisas, um futuro melhor. 8 Perturbação moral; indignação, agitação. 9 Med Movimento total de um órgão; movimento anormal dos humores orgânicos. 10 Impressão funda que qualquer ato da vida social de um povo causa no espírito dos cidadãos. 11 Acontecimentos naturais que perturbaram e mudaram a face ou constituição do globo. 12 Todo fato, cataclismo, fenômeno ou grupo de fenômenos que tem por fim alterar a constituição física de certo terreno ou região considerável. 13 Fís Movimento de um móvel que, percorrendo uma curva fechada, torna a passar sucessivamente pelos mesmos pontos. 14 Estado de uma coisa que se enrola, se revolve ou gira sobre si mesma. 15 pop Remoinho nos cabelos. 16 Náusea, repulsa, nojo. 17 Agr Tempo que medeia entre um corte de arvoredo e outro corte no mesmo talhão. 18 Astr Tempo que um astro gasta para descrever o curso de sua órbita. 19 Volta completa de um objeto que gira ao redor de um ponto ou de um eixo. 20 Astr Volta periódica de um astro ao seu ponto de partida. 21 Geom Movimento suposto de um plano em volta de um dos seus lados, para gerar um sólido. 22 Mec Giro completo do eixo de um motor ou de qualquer peça em movimento giratório. R. sideral: retorno de um astro ao mesmo ponto do céu.
Disponível em: A versão acima sofreu pequenas modificações devido a correções gramaticais e atualizações de acordo com as Novas Regras Ortográficas. Acesso em: 09/04/2010.


    Podemos perceber de acordo com o dicionário a palavra revolução tem diversos significados, dependendo do contexto e da temática em que está inserida. A maioria das definições, que dizem respeito às mudanças sociais, denota certos níveis de violência. Mas acredito que o mais próximo que quero dizer quando digo a “Revolução Sustentável” é a definição número 10: “Impressão funda que qualquer ato da vida social de um povo causa no espírito dos cidadãos”. E, discordando um pouco da assertiva número 7, pois o passado não deve ser ignorado se buscamos um futuro melhor. Em alguns casos podem até ser antagônico, já que visões românticas de muitos movimentos sociais prezam o passado, em que não havia grandes destruições ambientais e o ser humano respeitava e era mais “próximo” da natureza.
    Mas o termo revolução tem seus méritos por mostrar um sentido de urgência, descontentamento e de desconforto com nossa atual situação. A necessidade de envolver todos os seres humanos é também uma característica diferencial, já que as revoltas costumam ser de uns contra os outros. Embora, existam visões que nem sempre partilham das mesmas opiniões e escolhas, ninguém parece ser “contra” o ambiente, nem mesmo de sua preservação, apenas discordam sobre a intensidade e rigor a serem aplicados.
    Essas disputas ocorrem em todas as áreas, desde as práticas cotidianas como a escolha do que consumir, ao uso e exploração de recursos naturais, a adoção de regulamentação e licenças ambientais para produtos e obras, o selo ambiental, a rotulagem de alimentos, a fiscalização de empresas e os padrões (nacionais e internacionais) que serão adotados. Enfim, um sem-fim de coisas que podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida, mas que também implicam em mudanças profundas de hábitos, visões de mundo, modo de produção e que influência nas ofertas e demandas de determinados produtos e também no seu preço final e custo de produção.
Hoje, vemos que muitos produtos tem se utilizado das perspectivas “eco”, meramente como uma forma de propaganda, de modo a agregar um valor maior no produto final, sem estarem necessariamente preocupados com a ecologia e a sustentabilidade. Ainda temos uma visão de que o consumo desenfreado é bom, pelo menos para a economia. Afinal, quanto mais se consume, mais se têm que produzir e, isso significa mais fábricas e indústrias, que geram mais empregos. Mais pessoas empregadas são mais pessoas consumindo.
Esse ciclo viciado e vicioso, que é a base da lógica do mercado tem sérios problemas, afinal de contas os recursos para a produção de certos materiais e produtos tem limites, são escassos e finitos. Em um longo prazo, os mesmos motivos que levaram à prosperidade e crescimento de uma sociedade, podem significar o seu colapso. O professor de geografia da Universidade da Califórnia, Jared Diamond, na sua obra Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso, de 2005 (lançado no Brasil pela Ed. Record), explica muito bem essa situação através da análise de diversas sociedades que ainda existem ou vieram a sucumbir.
Segundo Diamond, o colapso é
“... uma drástica redução da população e/ou complexidade política, econômica e social, numa área considerável, durante um longo tempo. O fenômeno do colapso é, portanto, uma forma extrema de diversos tipos mais brandos de declínio, e torna-se arbitrário decidir quão drástico deve ser o declínio de uma sociedade antes que se possa qualificá-lo como colapso. Alguns desses tipos mais brandos de declínio incluem pequenos altos e baixos normais do acaso; pequenas reestruturações políticas, econômicas e sociais características de qualquer sociedade; a conquista de uma sociedade por um vizinho ou o seu declínio ligado à ascensão de um vizinho, sem mudança no tamanho total da população ou na complexidade de toda a região; e a queda ou substituição de uma elite de governo por outra. De acordo com tais padrões, a maioria das pessoas concorda que as seguintes sociedades do passado foram vítimas ilustres de verdadeiros colapsos, mais do que de pequenos declínios: as sociedades anasazi e cahokia, dentro das fronteiras dos EUA contemporâneos; as cidades maias na América Central; as sociedades machica e Tiahuanaco, na América do Sul; a Grécia Miceniana e Creta Minóica, na Europa; o Grande Zimbábue, na África; as cidades asiáticas de Angkor Wat, da cultura harapa, no vale Indo; e a ilha de Páscoa no oceano Pacífico” (DIAMOND, 2009, p. 17-18).

O professor Diamond distingue oito categorias pelas quais as sociedades do passado teriam minado a si mesmas, cometendo ecocídio (suicídio ecológico não intencional):
“... desmatamento e destruição do hábitat, problemas com o solo (erosão, salinização e perda de fertilidade), problemas com o controle da água, sobrecaça, sobrepesca, efeitos da introdução de outras espécies sobre as espécies nativas e aumento per capita do impacto do crescimento demográfico” (p. 18-19).
Coloca ainda mais quatro ameaças modernas aliadas a essas oito: 

“mudanças climáticas provocadas pelo homem, acúmulo de produtos químicos tóxicos no ambiente, carência de energia e utilização total da capacidade fotossintética do planeta. A maioria dessas 12 ameaças, acredita-se, se tornará crítica em âmbito mundial nas próximas décadas.” (p. 19)

    Essa é uma obra riquíssima, bem detalhada sobre as diversas sociedades do passado que vieram a sucumbir por motivos diversos, não apenas o dano ambiental, mas também outros fatores que levaram ao colapso podem ajudar a entender nossa própria sociedade. A resposta da própria sociedade é fundamental para sua continuidade ou desaparecimento.
    O interessante é perceber que há cada vez mais informações, estudos e evidências que comprovam que mesmo as civilizações mais evoluídas de outros tempos sucumbiram ao ignorar sinais de crise e não serem capazes de responderem aos desafios a tempo. Nós temos métodos e capacidades de análise cada vez mais superiores, o nível tecnológico diminuiu as distâncias e a partilha das informações e conhecimentos, mas isso não significa que temos problemas menores, em proporção, aos das antigas sociedades.
    A ideia de um mundo melhor parece distante. Um mundo mais justo, igualitário, responsável, que haja respeito, dignidade, paz e segurança, liberdade e uma série de requisitos básicos para uma vida melhor, sem que isso seja uma batalha feroz e constante é de muitas formas um sonho. Por mais que pareça uma utopia e que estamos muito longe desse caminho há esperança, pelo menos da minha parte e de quem compartilha esse espírito, que um mundo melhor é possível e essa busca vale a pena.
    Contudo, é preciso que haja uma nova forma de se pensar o mundo, de se entender e ser entendido, uma nova visão que não priorize tanto o mercado e a produção desenfreada e sem sentido, que não busque explorar e esgotar as capacidades que temos. Que não fomente preconceitos, opressões, exclusões e violências. Para isso, há de se ter solidariedade, amor, respeito, princípios éticos, morais e existenciais que propiciem a felicidade ou, pelo menos, a chance de obtê-la.

Bibliografia

DIAMOND, Jared. Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso; tradução de Alexandre Raposo, 6a. edição. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2009. 685 p.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Comentários sobre enchentes, água e clima

Ontem (6/04/2010), o Rio de Janeiro passou por forte temporal que deixou o Estado em calamidade, diversos mortos, feridos e desaparecidos. Ainda em estado de alerta, várias cidades pararam, principalmente a capital que também tem o nome do Estado.
Para os paulistas e paulistanos, que parecem ter um pouco mais de experiência com esse terrível acontecimento, pois infelizmente assombra, desde novembro do ano passado, com mais intensidade do que nos últimos anos,  fica a solidariedade aos cariocas. Diversos outros Estados do Brasil também passaram por essas tragédias e em diversas outras cidades do mundo vemos acontecer essa catástrofe e suas consequências devastadoras.
Os motivos que levam a situação a tal ponto são inúmeros e os culpados também. Talvez, seja exagero, chamar alguns de culpados, mas com certeza há muitos facilitadores para que essa situação ocorra. Não diria, por exemplo, que esses "dilúvios" ocorram por fatores isolados., nem por culpa divina, que a palavra dilúvio nos remete.
Nem se pode dizer, que é culpa de uma determinada geração ou de um governo ou governante, embora a resposta dada é fundamental para minimizar ou sanar os graves impactos e consequências das enchentes.
O que fica claro é que o processo de urbanização desenfreada é um dos principais fatores para ampliar a gravidade das enchentes. Isso por diversos motivos: ocupação das áreas de várzea, destruição das matas ciliares, impermeabilização do solo com asfaltos, casas e construções diversas, canalização de rios e córregos, concentração populacional, inversão térmica, poluição, criação de represas e comportas, sejam para reservatórios e estações de tratamento, sejam para hidrelétricas, entre outros.
Além disso, há os fatores e causas externas como o aquecimento global, o aumento das temperaturas oceânicas, o degelo polar e outras mudanças que podem ser influenciadas pelas ações humanas.  Embora, cada um desses fatores, já sejam preocupantes em si, o conjunto da obra é mais ainda.
Vamos ao cenário da tragédia: Há um aumento na temperatura dos oceanos, o degelo polar e uma série de outros perigos, que ocorrem naturalmente em períodos variados. O problema é que há uma intensificação desse aumento, que pode estar sendo causada pelo aumento da poluição e emissões de gases de efeito estufa.
Essa intensificação é perigosa, pois levam a um deslocamento maior de água, em forma de vapor, que antes estavam nos oceanos, para a massa continental que habitamos.
Enquanto isso, as cidades que tentam represar e controlar seus rios, marginalizando e encanando, por exemplo, tem cada vez menos formas de absorver a água decorrente das chuvas, pois o solo é cada vez mais impermeável e os sistemas de escoamento e esgotos não são suficientes para dar conta desse volume, cada vez maior. A sujeira e lixos acumulados, também diminuem essa capacidade de escoamento.
Solos mais impermeáveis também são sinônimos para menos vegetação, que absorveriam parte dessa água e também de gás carbônico, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Tentar limitar o trajeto do rio, ou mesmo canalizar ele por completo é um feito que exige cuidado e empreende riscos. Por causa das chuvas, os rios têm pontos naturais de transbordamento, as áreas de várzea, que são sazonais, ou seja, que não ocorrem sempre. O problema é que as construções, como as marginais, são feitas e pensadas em períodos de baixa umidade, em que essas várzeas não eram consideradas, por isso das constantes enchentes em determinados períodos.
Para tentar conter essas cheias, foram criadas então comportas e reservatórios para os períodos de cheias e de maior vazão, consequência de chuvas mais intensas. A questão da impermeabilidade do solo também afeta de forma considerável, pois leva cada vez mais volumes de água para os esgotos e outros canais que desembocam nesses reservatórios ou  diretamente nos rios.
Vamos pensar um pouco, se há mais chuvas em certos períodos, que não são previstas ou esperadas, se há menos absorção das águas pelo solo, árvores e plantas, se, o escoamento dessas águas levam a sistema de esgoto e canalização que vão parar nos rios. Então, o volume de água pode ser muito maior que os esperados e comportados pelos reservatórios e a vazão passa a não ser suficiente para conter o transbordamento da água, ou seja, o tráfego de água é tão intenso que ocasiona enchentes.
Para o paulista e outros moradores de grandes metrópoles, mal planejadas, acostumados a ficar parado no trânsito, a situação é semelhante. Grandes volumes de água, sem espaço suficiente para fluir acabam se acumulando, a diferença de carros para a água é que a água não obedece a lógica dos carros e se amontoa e vaza para qualquer lado, não sendo controlada ou limitada pelo espaço pré-determinado para seu deslocamento. O efeito desse vazamento ou transbordamento é a enchente.
Outra situação que piora com os efeitos de chuvas mais intensas não são apenas enchentes e suas consequências devastadoras, além do perigo de transmissão de doenças. Há também o risco de deslizamentos em áreas que estão habitadas, as chamadas áreas de risco, encostas de morros e voçorocas. As pessoas que vivem nessas regiões são uma das mais afetadas pela intensidade das chuvas, que leva a deslizamentos e destruições, consequência da impermeabilidade do solo e a retirada de vegetações para dar lugar a casas que torna o solo menos resistente a enxurradas e leva a desbarranques, arrastando casas, seus  móveis, moradores e o que estiverem no caminho.
Os efeitos devastadores das chuvas também são sentidos na infra-estrutura da cidade, quedas de postes de luz e rompimento de cabos de energia afetam o fornecimento para as áreas afetas, o difícil acesso também impede o socorro aos feridos e desabrigados. O próprio sistema de esgoto fica prejudicado e pode afetar a disponibilidade de água potável em certas áreas,  dependendo dos estragos.
A resposta que o poder público dá a esses acontecimentos e o próprio tratamento, antes  mesmo da ocorrência de tragédias, é fundamental para minimizar desastres. São muitas questões, entre elas, evitar construções e ocupações em áreas de risco é algo que pode ser feito e evitaria muitas desgraças. Outro ponto é entender e respeitar os cursos, fluxos e vazões dos rios, que podem muito bem ser feito, como o caso de Seul, capital da Coreia do Sul, não é tornar marginais obsoletas, mas torná-las co-habitações para o rio e não limitações a ele. Preparar agentes, como a defesa civil para momentos como esses, equipá-los, treiná-los e mobilizá-los quando necessários, entre outras tantas iniciativas e ações.
A conscientização dos cidadãos também é um ponto importante, afinal, o lixo que se acumula e impede o maior escoamento é, em grande, parte descartado de forma imprópria por muitos. Um simples papel de bala para uns é catástrofe na certa para outros, isso por que não estamos acostumados a pensar de forma coletiva, nem no respeito mútuo. Enquanto é um simples papel de bala para um, imaginem 18 milhões desses papéis jogados na rua e escorrendo para bueiros que certamente serão entupidos. Campanhas e incentivos à reciclagem, mais a melhoria da infra-estrutura existente já seriam um bom começo.