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domingo, 24 de agosto de 2008

Transportes Urbanos e Cidades Sustentáveis - reflexões em São Paulo

São Paulo, 21 de Agosto de 2008 (mas poderia ser qualquer dia da semana)

7:45h - Estação de Metrô Carrão.
Como estou digitando dias depois do ocorrido, algumas alterações podem acontecer, mas nada que prejudique a intenção deste texto.
Como me recusei a fazer meu papel de sardinha tive tempo para escrever e refletir sobre o transporte urbano:
Primeiras impressões: - Sentido Palmeiras- Barra-Funda abarrotada/ Sentido Corintians-Itaquera - vazio.
Parece que faz tempo que está assim com tal movimento e deve ser todo dia.
Hoje, Quinta-Feira, talvez às 8:00h os trens nos dois sentidos estarão mais vazios...
Por que isso ocorre? Por que as pessoas não saem mais cedo ou mais tarde de casa? Como não ficar estressado sendo uma sardinha todo santo dia?
Será que o transporte, ou a falta dele está diretamente relacionado com a violência?
Com tantos carros nas ruas e tantas e tantas pessoas na estação de metrô mostram como a cidade é populosa; mostra também sua desorganização.
Eu, sentado de frente para uma das plataformas de trens vejo isso: de um lado lugares sobrando para se sentar; de outro falta até para respirar. Quer intimidade? Marque uma viagem de metrô no horário de pico e se prepare para grandes aventuras.
Ainda bem que não sou eu nesta rotina diária. Imagino se a pessoa consegue ser produtiva após esta maratona só para chegar ao trabalho, escola e/ou faculdade. Será que elas já pensam na volta, que provavelmente será parecida com a ida? Afinal de contas, se há deslocamento de ida e se a maioria tem o mesmo horário de trabalho, o que esperar da volta?
- 5 min. para às 8:00h
Já houve uma considerável diminuição nas filas para se entrar nos trens sentido Barra-Funda, mas ainda eles chegam na estação cheios.
O que isto tem a ver com as cidades sustentáveis?
Vamos a algumas hipóteses:
Provavelmente este bando de estressados descontam sua frustração e nervosismo em algo, ou seja, há grandes possibilidades no aumento de consumo - seja comida (as conhecidas bombas calóricas de satisfação imediata, arrisco dizer chocolate para citar um exemplo; mas também os 'fast-foods', salgadinhos e doces em geral); revistas, livros, cds, dvd, mp3, mp4 - para distrações e "tolerância" nas espera; etc. Não vamos entrar na parte de medicamentos em geral "auto-prescritos". A diminuição no rendimento, ou o baixo rendimento do trabalhador, se notado pelo empregador leva a demissão, isso sem considerar eventuais atrasos, já que imprevistos podem ocorrer.
Para resumir: má-qualidade na alimentação; estresse; desemprego; violência, assédios e abusos, são causas e/ou conseqüências prováveis neste ritmo frenético. Fora os vícios e dependências gerados.
-8:01h - As duas plataformas se encontram praticamente vazias. Até mesmo o ar é menos opressor e angustiante, ainda assim o trem sentido Barra está abarrotado.
- Vamos nos concentrar em possíveis soluções:
A mais imediata - horários alternativos de trabalho; se todos vão para a mesma região poderia haver uma escala de trabalho: algumas empresas de certo ramo poderiam começar o horário de trabalho às 6:30h, outro setor às 6:45h; outro as 7:00h e assim por diante. Por que limitar e "padronizar" o horário de trabalho? O que aparentemente ocorre hoje!
Também encontrar formas alternativas de trabalho: há possibilidade de se trabalhar em casa? A internet hoje em dia tem suas facilidades e permissividades.
- Outra solução não tão imediata – melhorias urgentes e continuas nos transportes, além de melhoria na qualidade, eficiência, segurança e pontualidade - para isso um planejamento e organização: novos caminhos, mais faixas exclusivas (mesmo que apenas em horários de pico); frota mais equipada, melhor e "maior", por exemplo, poderíamos ter ônibus apenas com assentos laterais para mais pessoas irem de pé (estilo americano), ônibus com dois andares (estilo londrino) e ônibus com preços variados (com assentos melhores, menos paradas e mais conforto).
- Aliado a tudo isso um Imperativo - desconcentração das empresas e serviços. Se a maioria dos trabalhadores se desloca para 'apenas' um determinado lugar ou região é um claro sinal de aglomeração dos postos de trabalho que a maioria dos seus empregados não podem arcar para morar perto. O que seria a melhor solução: Trabalhar perto de casa, ir a pé ou de bicicleta não só pouparia despesas e transportes, economizaria tempo e muitos outros benefícios (exercícios, menos estresse, mais tempo livre, disposição etc.)
- 8:10h - ainda cheio o trem que leva à Barra Funda e ocasionais filas se formam, mas também se nota um aumento nos intervalos entre os trens que chegam e vão.
Importante salientar que as soluções apresentadas só serão efetivas e só terão impacto significativo se forem feitas em conjunto. Nenhuma obra ou projeto faraônico se sustenta sozinho; existem muitas outras formas de melhorias, mas o fato é que ações unilaterais tendem ao fracasso ou a um sucesso ínfimo e breve. Enquanto tais alternativas não surgem a frota de carros particulares aumentam e geralmente com "UM" passageiro/motorista. As pessoas ainda enfrentam o trânsito - mas preferem assim, pois acham que por estarem sozinhas, sem aperto estão no lucro, mesmo com o aumento no gasto (manutenção, combustível, impostos).
E o que a Sustentabilidade e o ambiente têm a ver com tudo isso?!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

A Internacionalização e Institucionalização do Debate Ambiental

Podemos encontrar ao longo da história diversas ações envolvendo questões ambientais, principalmente quando se trata da destruição e do aproveitamento sem pensar nas conseqüências. destes atos. É verdade também que existiram defensores e pesquisadores que buscaram entender e defender as "causas da natureza". Um dos exemplos citados pela história ambiental é a formulação do conceito e área de estudo da ecologia por Ernest Haeckel em 1869 para entender o espaço e a interação dos seres e o meio - biomas. Até mesmo no Brasil encontramos nos discursos de Joaquim Nabuco no século XIX a defesa ao meio ambiente (PÁDUA, 2007).
A partir da década de 1960 as ações e movimentos ambientalistas começam a ganhar destaque e força no cenário internacional. Um dos motivos pode ser a facilidade cada vez maior dos meios de transporte e de comunicações que tornam possível a interação, discussão e divulgação que atravessam fronteiras e de forma praticamente instantânea. Ainda assim, durante os anos 1960 existiam grandes resistências às "defesas ambientalóides", muitos estudos que denunciavam a degradação ou a poluição eram censurados ou comprados pelas empresas ou agricultores que seriam prejudicados com tais publicações.
A força e organização de diversos movimentos sociais e ambientais, assim como uma maior preocupação com o futuro da terra leva também a discussão nas esferas institucionais: a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (CNUMAH) em 1972 pode ser considerado marco da institucionalização internacional do debate ambiental. Além da divulgação e debate do Relatório Meadows, ou Limites do Crescimento do Clube de Roma no mesmo ano, que fazem duras críticas ao crescimento econômico como estão e mostram o limite e finitude dos recursos naturais. A declaração final da Conferência e o Relatório Meadows foi causa de diversas críticas e debates, muitos considerando suas previsões alarmistas e exageradas, outros elogiando a abrangência e complexidade dos trabalhos e dados.
De certa forma, foram capazes de gerar interesse de alguns setores da sociedade e a mobilização foi crescente desde então, tanto em ações nacionais quanto globais. Cada vez mais integradas e interativas entre si: o debate internacional ambiental gerou diversos interesses, estudos, ações e projetos tanto em sua defesa como para refutação de dados nas diversas áreas do saber e conhecimento.

sábado, 9 de agosto de 2008

O Apolítico e o Politicamente Correto e a Sustentabilidade

O que nos motiva a aderir uma causa, um discurso, uma ou várias teorias? Será o mesmo princípio em que baseamos nossas escolhas pessoais e profissionais? Nossos gostos, estilos? Ou existe algo a mais? Devemos considerar que nossas atitudes são reflexos destas e uma série de outras "escolhas"?
Por que tais perguntas se tornam importantes para a questão ambiental e o que o "apolítico" e o "politicamente correto" se relacionam em todo este pensamento?
Há diversas formas de analisar a história ambiental como um movimento histórico, inconstante, falho e incoerente em muitos aspectos, fragmentado, mas também como crítico, dinâmico, adaptativo, politizado e politizante, inventivo, criativo e outros atributos tanto para um lado quanto para o outro. Não podemos negar que o tema ambiental está presente em diversos outros temas: econômicos, sociais, culturais, políticos; além dos que eram considerados mais "ligados": biológicos, físicos, químicos, ecológicos, "naturais" - a natureza (que merece considerações e reflexões maiores, não apenas a visão de florestas e animais "que não sofreram interferência humana) pode ser considerada o exemplo da diversidade e mutação, não apenas pelos seus processos bio-fisio-químicos; mas quanto a visão do próprio ser humano ao longo da história.
E são as mudanças, em especial, a do ser humano (neste caso mais do pensamento, atitudes do que mudanças biofísicas internas) que alteram radicalmente nosso ecossistema, nossos hábitat e nossos relacionamentos. Passamos a ver nosso ambiente como fonte de matéria e riquezas para nosso conforto e desenvolvimento material. Essa forma de ver o mundo foi o que motivaram muitas dos que hoje são consideradas "catástrofes", entre os muitos exemplos possíveis temos o restante da Mata Atlântica do Brasil - onde somente 7% de sua extensão original sobreviveu e na quase toda essa área em parques e reservas, com poucos recursos e com apoio de iniciativas privadas; também temos Chernobyl - cidade Ucraniânia que em 1986 teve um derretimento de um reator nuclear que gerou mortes e doenças não apenas na região, mas para quase toda a Europa; e para citar um dado mais atual a concentração de plásticos nos oceanos que já estão estimados em mais de 40%.
Mas não é só de exemplos negativos que devemos pautar a discussão ambiental, embora o que leva a polêmicas e discussões é justamente a declaração de "fim dos tempos": O aquecimento global como afogamento de grandes partes da Terra - "dilúvios"; secas e doenças aumentando significativamente, principalmente nos trópicos - "pragas"; medos constantes aliados a outros fatores como as guerras - destruição, mortes violentas e chocantes, o fim dos "direitos humanos". Ações que levam a organização da sociedade civil, a cooperação - mundial ou entre vizinhos, a sensibilização da sociedade, das empresas, dos governos. São atitudes que se estabelecem devagar, às vezes com certos graus de desprezo e desconfiança, mas cada vez mais constantes e cada vez mais abrangentes.
Partimos do indivíduo, aquele que atua, interfere e sofre influências de seu espaço, seja local, familiar, profissional que através das diversas experiências é capaz de formar opiniões sobre os mais variados assuntos, nem por isso com menos substâncias que especialistas no assunto; mas talvez por isso nem sempre tão aprofundado. A complexidade da questão ambiental é a complexidade do indivíduo e suas relações diversas, únicas e coletivas.
É praticamente impossível não existir opiniões contrárias e a favor seja qual for o assunto, se for minimamente "entendido". E aí entramos em um problema: o que o leitor entende e o que o autor quer dizer, nem sempre chegam a um acordo. As interpretações que uma frase pode gerar é espantoso, mas esse talvez seja o poder e "charme" das palavras, sua força e intensidade, capaz de expressar 'estilos' e sentimentos inigualáveis: alguns autores se tornam célebres por sua unicidade: embora as palavras existam e sejam usadas diariamente pela maioria da população há alguns que conseguem fazer com que as palavras ganhem vida e se transformem em algo mais que palavras.
Simplificando, até de forma bruta e parcial: o indivíduo é formado a partir de suas interações e experiências adquiridas ao longo da sua vida; as lições que se apreendem destas situações dependem da "intensidade" e do "impacto" que viram marcas, "cicatrizes", e exemplos a serem ensinados, para serem seguidos ou evitados. A atitude e posicionamento dos indivíduos além destes fatores, dependem também do ambiente em que ocorrem, ou seja, podem variar dependendo da pessoa - uma situação que ocorre no ambiente de trabalho e uma situação semelhante no ambiente escolar ou familiar podem levar a reações diferentes, mesmo sendo a mesma pessoa.
O fator apolítico - a idéia ou "mito" de que uma certa atitude não tem influências ou objetivos políticos - é difícil se a idéia de política for a interação entre indivíduos em uma sociedade, em prol de objetivos comuns ou para o bem comum. Pode ser que esteja ligado a atitudes, independente das opiniões e gostos pessoais. Talvez o termo esteja mais ligado a questão e a visão da política como poder, visto como 'corrompedor ou corruptor', 'opressor' e uma série de características depreciativas e, por isso, o afastamento de uns e cobiça de outros. Sobre a questão ambiental: uma atitude e um discurso em prol da sustentabilidade, por exemplo, já é partidário, pois defende um tipo de desenvolvimento e uma certa visão de mundo. Nem por isso há necessariamente essa aproximação e busca pelo poder.
O Politicamente Correto (PC) já tem outro processo, que é a sociabilização, interação e integração, com uma certa dose civilidade; em seu extremo se tornam até tabus sociais e motivos de desprezos e preconceitos velados. O PC visa o tratamento respeitoso e o cuidado com alguns temas: religião, etnia, nacionalidades, partidos políticos, culturas, costumes, gostos musicais, times de futebol; embora os últimos não sejam tão respeitados quanto deveriam (de qualquer uma das partes). Mas certos temas, termos e opiniões são altamente banidos do meio social, principalmente nos âmbitos declarados democráticos - que defendem os direitos humanos, as liberdades e o respeito - uma impressão que o que prevalece é o que concorda a maioria.
Certos termos devem ser banidos do meio social? Ou devem ser banidos de vez? Não é por que ele não é falado que não existe. Mas aí há a ambiguidade: Ao mesmo tempo que é levado a obscuridade, o fato de não ser perpetuado contribui para sua extinção... mas se não for banido da pessoa, se não sair da maioria dos espaços familiares é capaz de ser tão forte quanto se fosse algo comum, mesmo sem uma só palavra pronunciada.
O PC vira uma nuvem cada vez mais densa em determinados pontos que embora seja eficiente para escondê-los não é capaz de fazer o objeto desaparecer. Uma neblina artificial que polui os pensamentos e o discurso, mas que não se tornam algo pleno e efetivo por demandar um gasto de energia por vezes desnecessários para se manter. Como efetivar os discursos e tornar o PC em algo proveitoso serão desafios cada vez maior a questão ambiental, ser ambientalmente correto não deve ser visto como um sacrifício e imposição ligados a um modo PC de ser.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

A Transdisciplinaridade e a(s) visão(ões) de Mundo

A divisão e a especialização que faz parte da maioria das estruturas de ensino vêm de uma longa tradição baseada na noção de que a divisão "facilita" o ensino, pois através do "micro" (que consiste em uma pequena parte) você consegue teoricamente analisar o "macro" (o todo) - o pensamento cartesiano é um dos pilares deste método. Mas na prática devemos tomar cuidado com o nível de especialização que leva a uma falsa impressão de saber e conhecimento que não necessitam de complementos além do específico; para ser mais "específico": ao reunirmos uma série de conhecimentos e informações sobre um assunto e/ou tema até chegarmos em conclusões e teorias capazes de tornar um assunto inteligível podemos chegar na "zona de conforto especializada" e daí algumas alternativas: ou reproduzimos o que aprendemos e temos novas abordagens sobre o assunto e assim alimentando debates e mais reflexões; ou atingimos um ponto de saturação em que não há mais o que "fazer" e começamos uma nova pesquisa; ou ainda ficamos com uma falsa impressão de que já dominamos tal assunto sem nos aprofundarmos mais e, aí sim atingimos o pico da "zona de conforto".
O conhecimento é importante em todos os aspectos: o raciocínio e a opinião não conseguem se desenvolver sem as diversas influências do cotidiano, das informações fornecidas, daquilo que vemos, ouvimos, sentimos e a reflexão para combinar os diversos saberes de forma abrangente, agregada e interligada; é através das diversas experiências (inter e intra pessoais) que nos formamos e nos reconhecemos como indivíduos. A Transdisciplinaridade busca unir essas diversidades, respeitando as especialidades, mas sem esquecer a necessidade dos outros conhecimentos, das práticas e ações e influências que fazem parte da experiência humana.
Como delimitar qual "tema" é mais importante? Que opinião é a melhor? Que método/ procedimento devemos adotar? Como iniciar um estudo? Como é o mundo? E várias outras perguntas surgem quando analisamos a questão ambiental e até mesmo outras questões. Existem diversos motivos capazes de levar a uma resposta diferente, pode variar muito dependendo da pessoa, afinal de contas estas são perguntas pessoais.