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sexta-feira, 25 de julho de 2008

O processo histórico da Sustentabilidade

O conceito de Sustentabilidade é relativamente novo se comparado com todo o movimento ambientalista e este último tem passado por grandes transformações ao longo dos anos. Mesmo o termo sustentável já foi muito utilizado sem o peso ambiental que tem hoje, por exemplo os termos econômicos: crescimento e economia sustentáveis (ou auto-sustentáveis) não se relacionam, necessariamente, a causa ecológica. O termo usa sustentável com o significado de sustentação, continuidade ou estabilidade.
É a partir dos trabalhos desenvolvidos pelo Professor Ignacy Sachs (1986/2002) e também pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento que resulta no Relatório Brundtland, intitulado Nosso Futuro Comum (1987) nos quais o termo ecodesenvolvimento ou Desenvolvimento Sustentável começa a ter destaque no movimento ambientalista, com defensores e críticos em todas as áreas. Falar em Sustentabilidade segundo a Comissão é usar os recursos de forma racional que permitam manter uma qualidade de vida no presente preservando os recursos para as gerações futuras.
Tais estudos e declarações são influenciados por movimentos anteriores, como a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (CNUMAH) em 1972, na cidade de Estocolmo na Suécia; considerada marco internacional da internacionalização e institucionalização do debate ambiental. Nesta conferência cria-se o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Também influenciados pelo Relatório Meadows, ou Limites do crescimento publicado pelo Clube de Roma em 1971, ainda hoje discutido, atualizado e estudado.
Podemos notar que as ações que levaram ao termo Sustentabilidade fazem parte de todo um processo histórico longo e cada autor coloca a origem em um ponto específico. O fato de ter sido posto em um documento das Nações Unidas em 1987 é um acontecimento muito importante, mas não podemos negar que existiram influências e processos anteriores e ainda hoje é motivo de críticas e desconfianças. Ainda que seja o termo adotado pelas Nações Unidas para levar a cabo seus projetos e ações ambientais.
Não podemos deixar de lado a crítica principal feita ao termo "Desenvolvimento" Sustentável, mais pelo desenvolvimento que era mais visto como "progresso e crescimento", ligado ao acúmulo de riqueza de um país e sua capacidade ou "poder" de compra. Em certo ponto o "Desenvolvimento" tem algumas características que implicam crescimento, progresso, mas isso não significa que ele não possa ocorrer de uma forma justa, ética, socioambiental, responsável e solidária. Desta forma o termo desenvolvimento necessariamente implica Sustentabilidade e vice-versa, ou seja, não há desenvolvimento se não houver sustentabilidade.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A absurda impossibilidade é possível

O que há de errado em se pensar o impossível? Muitos acontecimentos históricos foram vistos como "impossíveis" de ocorrerem, no entanto... A ficção científica ao longo dos séculos foi vista como um entretenimento, uma fantasia, fruto da imaginação de seu autor, etc. Júlio Verne (1825-1905), provavelmente é o autor mais citado por ter descrito "naves voadoras" e "submarinos" em suas histórias, quando tais 'máquinas' eram projetos e sonhos de cientistas e engenheiros de seu tempo.
Cientistas que buscaram desenvolver novos métodos, técnicas e tecnologias para auxiliar a humanidade podem muitas vezes considerar impossível que seu uso para fins bélicos ou destrutivos, mas a criação e desenvolvimento das armas nucleares começou como um projeto para fornecimento de energia alternativa e abundante para a população...
Afinal de contas o que é "impossível" e "absurdo" para uns é oportunidade e desafio para outros. E quando se trata da questão ambiental, estes dois elementos foram e ainda são muito empregados. Em décadas não muito distantes havia um certo consenso que a "natureza" e seus recursos e matérias primas seriam inesgotáveis e que servem apenas como instrumento do progresso humano para o conforto da modernidade.
Ao longo do tempo a preocupação com a destruição e devastação levaram diversas pessoas a questionarem esse modelo de "desenvolvimento". Muitos alertas foram feitos sobre esse crescimento desenfreado e seus males para as gerações futuras, mas ainda assim tais declarações eram vistas como absurdos e exageros de "ecorradicais" e que pensar dessa forma prejudicaria os negócios e indústrias de um país em detrimento de outros.
Uma série de ações, estudos, eventos e projetos de diversas áreas apoiadas em Organizações Internacionais (OIs) e/ou estruturadas em Organizações Não Governamentais (ONGs) e indivíduos interessados levam a uma conscientização cada vez maior sobre a importância do ambiente em todos os aspectos e não apenas como recurso, idéia difundida e baseada em estudos que comprovam que tais recursos são finitos e que há limite para sua exploração até mesmo para que não prejudiquem as próprias indústrias que dependem de tais materiais para se manter ativa.
Foi através de um processo complicado e complexo que a questão ambiental chega ao novo milênio com grande força, talvez pela conscientização e divulgação de sua importância, talvez pelo alarme e preocupações expostos nos meios de comunicação em massa nos últimos anos. Ao mesmo tempo em que temos cada vez mais informações e preocupações sobre a questão; em que a busca pela sustentabilidade parece a alternativa miraculosa para os problemas do mundo podemos notar que tais informações e divulgações são muito concentradas e superficiais o que leva a saturações e desinteresses da população em geral que se sente oprimida e perdida, incapacitada de agir efetivamente para resolver tantos problemas... É justamente a população, o indivíduo que tem papel fundamental, mas acaba sendo ignorado ou colocado em papel secundário.
Vamos refletir em um exemplo simples: é óbvio que uma indústria de tecidos poluí muito mais que um simples indivíduo e que a responsabilidade destas empresas são muito maiores na destruição ambiental, mas se pararmos para pensar, quem é o responsável por esta empresa? quem toma as decisões sobre quais processos, técnicas, materiais e máquinas serão usados nesta indústria? E mais quem vende e consome tais produtos?

Sim, indivíduos ou grupos de indivíduos!!

Não podemos achar, então, que não temos parcela de culpa na destruição causada por uma determinada empresa se consumimos seus produtos e fazemos parte desta cadeia. Infelizmente não podemos ser totalmente culpados pois existem uma série de fatores a ser considerados (preço, escolha, alternativa, oportunidade, políticas, fatores culturais, sócio-econômicos e ambientais etc etc).
Mas também não podemos deixar de lado só por achar que não há outra alternativa. Não agir ou se manifestar também é parte da culpa.
As empresas hoje em dia se tornam cada vez mais verdadeiros conglomerados, englobando diversas marcas, produtos e empresas espalhadas em diversos países que é até difícil saber quem realmente é o dono de tal marca e responsável pela fabricação de produtos, então é possível que ao comprar uma bala ou sorvete você esteja contribuindo para uma indústria bélica ou tabagista se forem do mesmo dono ou grupo.
A informação e divulgação são parte da conscientização ambiental, mas ainda que sejam cada vez maiores e mais "acessíveis", nem toda informação é vista ou tem o destaque que deveria e mesmo o interesse da população que conta com os telejornais como principal e, às vezes única, fonte de informação.
Na questão do absurdo e do impossível, o que seriam tais questões para o ambiental? Como dizer com certeza que o 'fim do mundo' pelas mãos humanas é possível ou não? Previsões, visões de catástrofes ou salvação, do messias ou do capeta. O que nos leva a uma série de questionamentos, desconfianças e até aceitação cega dependendo de seu 'ponto de vista'.

domingo, 6 de julho de 2008

(Re)pensar; (re)fletir; (re)agir: um processo necessário, uma escolha pesoal ou uma bobagem metodológica?

O que torna um texto memorável? Será a capacidade de mudar atitudes, ações e opiniões de grupos ou sociedades? Que seja sensível ao leitor e consiga conectar-se e ser identificado com ele e por ele? Que considera todos os aspectos do assunto abordado e permita expandir o conhecimento, as idéias, conceitos, formas e até regras (ou mesmo criá-las)? Que possa ser declamado e consultado independente do tempo de sua escrita e até mesmo aceita por relevar algumas informações que não "agradem" ao público em geral? Que transforma o autor em lenda e teoria, seja pelas aceitações (incorporação do discurso ou regras)ou polêmicas geradas que são capazes até de tornar seu nome uma conceitualização? Exemplos: darwinismo, lamarkismos, marxismos, cristianismos e tantos outros ismos.

Não há como responder tais questões em termos absolutos e definitivos, mas espero que como muitos antes de mim e muitos que ainda virão, tais questões ajudem em nossas próprias leituras e escritas. Afinal de contas, o que devemos considerar, indagar, acolher e refutar, expandir, adaptar quando estamos lendo? Essa é a base das reflexões deste texto.

Atualmente enfrentamos diversos desafios sobre o "conhecimento". Conhecimento adquirido de forma institucional (escolas, igrejas, universidades, etc); familiar (pais, colegas, amigos, familiares); midiático (internet, televisão, filmes, novelas, etc); societal (governos, culturas, costumes, etc). Todos obviamente com diversos níveis de interações entre eles que são indissociáveis e até questionáveis sobre sua classificação, hierarquia, eficiência e eficácia. O acelerado desenvolvimento técnico-científico-informacional, para usar os termos desenvolvidos pelo geógrafo Milton Santos, no último século tem impactos profundos em todas as áreas não só do conhecimento como sócioespacial-ambiental, cultural, psico/fisio/antropo/lógica, agregando diversos núcleos ao mesmo tempo em que a especificidade e a especialização fizeram escolas e escolas.
Não digo que há algo errado em tais desenvolvimentos e mudanças, isso aliás é o que torna minha expressão, pensamentos e divagações possíveis neste breve espaço. Nem defendo que há apenas coisas boas em tais processos. Como a maioria dos acontecimentos e desenvolvimentos "humanos" existem questionamentos, pontos de vistas, adeptos e contrários das diversas experiências individuais ou coletivas. Isso é possível pela própria diversidade humana (individual, social, cultural, ambiental, temporal,) e pela capacidade de "imortalização" da memória humana através de linguagens e escritas criadas e repassadas ao longo dos séculos. Essa capacidade de armazenamento da memória para além do tempo de vida individual além de poupar uma quantidade de tempo na aprendizagem de tarefas simples, permite a continuidade, aprimoramentos, adaptações, contradições, refutações e desenvolvimento de técnicas e teorias que podem desenvolver, ultrapassar e tornar "obsoleto" as anteriores, mas que com certeza não existiriam sem elas.
É importante que o conhecimento histórico não se perca no meio de todo esse processo, e não apenas a história de como alguma idéia ou produto em si se desenvolveu, devemos considerar também todo o contexto existente, um local, uma época, cultura, linguagens, técnicas e teorias existentes, além de influências, individualidades, tendências e uma série de fatores que contribuem na criação e inspirações humanas. A mudança e a continuidade são então inerentes do "tempo humano", dada a gama de fatores que devemos considerar e que contribuem em nosso cotidiano. Negar e esquecer o passado é uma coisa difícil e complicada que nem sempre traz benefícios; Louvar e cultuar o passado sem considerar as contingências atuais também pode dificultar a vida de muitos.
Soluções do passado podem resolver problemas presentes e modelos e formas de atuação em certa sociedades, culturas e tempos podem ser seguidas por outras sociedades diferentes. Em ambas as situações o sucesso pode vir a ocorrer, mas dificilmente da mesma forma como o "modelo original". Como discutimos anteriormente há uma série de fatores a serem considerados em qualquer ocasião, nosso modelo de desenvolvimento atual (muitos autores dizem ser efeito do processo de globalização e mundialização facilitado pelas tecnologias) não escapa desta lógica. Embora neste caso sejam os diversos problemas do passado que ainda persistem: fome, violências, pobreza, saúde, direitos humanos, meio ambiente, educação, etc. Talvez não sejam os mesmos problemas de séculos passado, mas sim mutações destes.
O termo em si pode não alterar sua raiz, mas provavelmente muito do seu significado e uso se altera refletindo seu contexto. O burguês é um exemplo básico: em um certo momento o burguês, moradores dos burgos (centros urbanos) da Idade Média que sem alternativas se voltam ao comércio para sobreviver. Com sucesso de suas atividades foram alicerces na derrocada da Monarquia e da Igreja como poderes dominantes em diversos reinos europeus - é claro que não foram apenas os burgueses responsáveis por tais mudanças, mas para o exemplo a ser dado acho que será útil tal imagem -buscam "igualar" os direitos e deveres das sociedades. Acumular riquezas, liberdade e a busca por nobreza (status e poder) motivou muitos comerciantes de uma época já não tão remota. Atualmente, em muitos aspectos, a visão do burguês é novamente vista de forma depreciativa, mas sua condição agora é de dominante perverso e desalmado, responsável por todos os males do mundo, sua avidez e ganância épica são criticados e temidos como capazes de destruir o mundo.
Disto podemos afirmar: 1o.) Parece ser uma tendência lutar contra a dominação plena; 2o.) A liberdade tão exaltada e defendida se torna um ponto de interrogação em muitos casos; 3o.) Uma situação ou acontecimento é capaz de mudanças profundas e permanentes, etc. Para nossa reflexão, essas mudanças de significados mostra um aspecto importante das próprias mudanças sofridas pelas sociedades em geral.
Para concluir este texto e demonstrar sua intenção vou retomar a idéia do título que ainda não foi diretamente explicado, ou melhor o uso dos "(re)", esta pequena ligação aos radicais pensar, flexo (fletir), agir modificam significativamente os termos? Simplificando o termo "re" ele tem lugar do "de novo" ou "novo"? A proposta é interessante e busca atrair reflexões, repensar o cotidiano, reagir sobre o que podemos, devemos, queremos. Sem esquecer o respeito, a ética, o conhecimento, a sociedade, cultura, educação, e tudo aquilo que faz parte da humanidade nem sempre humana.